sábado, março 16, 2024

Saudades da poesia de Natália Correia...

 

Natália Correia retratada por Bottelho

 

A Arte de Ser Amada

Eu sou líquida mas recolhida
no íntimo estanho de uma jarra
e em tua boca um clavicórdio
quer recordar-me que sou ária

aérea vária porém sentada
perfil que os flamingos voaram.
Pelos canteiros eu conto os gerânios
de uns tantos anos que nos separam.

Teu amor de planta submarina
procura um húmido lugar.
Sabiamente preencho a piscina
que te dê o hábito de afogar.

Do que não viste a minha idade
te inquieta como a ciência
do mundo ser muito velho
três vezes por mim rodeado
sem saber da tua existência.

Pensas-me a ilha e me sitias
de violinos por todos os lados
e em tua pele o que eu respiro
é um ar de frutos sossegados.

 

in O Vinho e a Lira (1969?) - Natália Correia

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este Blog gosta que os seus leitores comentem os posts - mas seja respeitador das ideias dos outros, claro e conciso. Por favor não coloque aqui links fora da temática do Blog ou do post que comenta. Se o fizer eles poderão ser apagados...