quinta-feira, novembro 10, 2011

Pablo Neruda, Portugal e Cunhal - IV

A lâmpada marinha

(imagem daqui)

O mar e os jasmins - IV

Da tua pequena mão outrora
saíram criaturas
disseminadas
no assombro da geografia.
Assim, a ti voltou Camões
para deixar-te um ramo de jasmins
sempiterno a florescer.
A inteligência ardeu como vinha
de transparentes uvas
na tua raça.
Guerra Junqueiro, entre as ondas,
deixou cair o trovão
de liberdade bravia
que transportou o Oceano no seu cantar,
e outros multiplicaram
teu esplendor de rosais e uvas
como se de teu estreito território
saíssem grandes mãos
derramando sementes pela terra toda.

Não obstante,
o tempo soterrou-te,
o pó clerical
acumulado em Coimbra
caiu sobre teu rosto
de laranja oceânica
e cobriu o esplendor de tua cintura.

in
Las uvas y el viento (1954) - Pablo Neruda

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