Nasceu Gonçalo de Amarante, da família dos Pereiras, no lugar de
Arriconha, freguesia de
Tagilde, próximo de
Vizela, igualmente
concelho de Vizela. Em Arriconha não falta, desde tempos imemoriais, a capela dedicada a São Gonçalo.
Os seus pais eram pessoas de nobre linhagem e deram ao seu filho uma
esmerada educação cristã não só pela palavra como, sobretudo, pelos
exemplos das suas virtudes cristãs.
Atingido o uso da razão, foi confiado a um douto e virtuoso sacerdote
sob cuja direcção iniciou os seus estudos. Chamava a atenção a sua
modéstia, a candura, o esforço em se aperfeiçoar na prática da vida
cristã e os progressos que ia fazendo nos estudos. Entre outros foram
estes os motivos principais que moveram o
Arcebispo de Braga
a admiti-lo, como seu familiar, e, sob os auspícios do Prelado, cursou
as disciplinas eclesiásticas, vindo a ser ordenado sacerdote e nomeado
Pároco da freguesia de
São Paio (ou São Pelágio) de Riba-Vizela, apesar da sua humildade e resistência.
No desempenho do seu múnus pastoral começou a brilhar na prática das
virtudes, sobressaindo no zelo apostólico, na castidade e na prática das
obras de misericórdia para com os pobres, gastando a maior parte dos
rendimentos da paróquia em aliviar as suas necessidades materiais, sem
esquecer as necessidades espirituais do seu rebanho, prodigalizando a
todos amor e consolação.
Alimentava, no seu coração, um desejo ardente de visitar os túmulos dos apóstolos São Pedro e São Paulo e os lugares santos da
Palestina
a fim de melhor viver as mistérios cristãos. Obtida a licença do seu
bispo, deixou os seus paroquianos ao cuidado dum sobrinho sacerdote e
peregrinou: primeiro, a
Roma, donde passou a
Jerusalém
e demais terras da Palestina, onde se demorou catorze anos. Entretanto,
começou a sentir certo remorso por tão longo abandono da sua paróquia,
avivaram-se as saudades da pátria e dos seus filhos espirituais e
veio-lhe, ao íntimo, o pressentimento dos males espirituais de que
padeciam, provocados por tão longa ausência e possível falta de zelo de
seu sobrinho. Foram motivos mais que suficientes para regressar, apesar
dos inumeráveis incómodos e perigos que a viagem supunha.
O seu sobrinho, além de o não aceitar e não reconhecer como
verdadeiro e legítimo pároco, escorraçou-o de casa e conseguiu, mediante
documentos falsos, provar ao Arcebispo
D. Silvestre Godinho que Gonçalo morrera e ser nomeado pároco da freguesia.
Resignado com semelhante atitude, deixou S. Paio de Riba-Vizela e
foi-se pregando o Evangelho por aquelas terras até à margem do
Tâmega, vindo a encontrar o lugar onde hoje é a cidade de
Amarante, então sítio inculto e quase despovoado, mas apto para a vida eremítica. Construiu uma pequena ermida que dedicou a
Nossa Senhora da Assunção,
nela se recolheu, saindo, de vez em quando, a pregar nos arredores e
consagrando o tempo que lhe sobrava à oração e à penitência.
Sentia, no entanto, necessidade de encontrar um caminho mais seguro em ordem a alcançar a glória eterna. Jejuou uma
Quaresma
inteira a pão e água e suplicou fervorosamente a Nossa Senhora lhe
alcançasse do Senhor esta graça… Diz-se que a Virgem Maria lhe apareceu e
lhe disse procurasse a Ordem em que iniciavam o seu Ofício com a
Saudação angélica ou Ave-Maria. Essa Ordem era a dos Pregadores ou
Dominicanos.
Encaminhou-se para o Convento de Guimarães da
Ordem dos Pregadores, recentemente fundado por São
Pedro González Telmo,
grande apóstolo da região de Entre-Douro e Minho, o qual lhe deu o
hábito e, uma vez feito o noviciado, ao modo daquele tempo, o admitiu à
profissão religiosa e, depois de algum tempo lhe deu licença para, com
um outro religioso, voltar para o seu eremitério de Amarante,
continuando a sua vida evangélica e caritativa.
Com o seu ministério operou muitas conversões, levou o povo à prática
duma autêntica vida cristã, sem esquecer de os promover socialmente em
muitos aspectos. Sobressai neste particular a construção de uma ponte em
granito sobre o rio Tâmega, angariando pessoalmente donativos em terras
circunvizinhas e levando os moradores mais abastados a darem ajuda
vultosa para assim pagarem aos operários.
O povo atribui-lhe muitos milagres, mesmo de ordem material, desde o começo até terminar a construção da referida ponte.
Concluída a ponte, S. Gonçalo viveu ainda alguns anos dedicado à
pregação e à vida de oração, enriquecendo-se de virtudes e merecimentos.
Reza a tradição que Nossa Senhora lhe revelou o dia da sua santa morte
para a qual se preparou com a recepção dos Sacramentos da Igreja.
Descansou santamente no Senhor, a 10 de Janeiro de 1262. O seu venerado
corpo, após a celebração das solenes exéquias por sua alma, foi
sepultado na referida ermida, continuando a efectuar-se muitos milagres,
atribuídos à sua intercessão.
Mais tarde, a ermida primitiva construída por S. Gonçalo foi ampliada em igreja. Sobre esta, em 1540,
D. João III
mandou erguer o sumptuoso templo e convento que ainda hoje existem e
que são monumento histórico da cidade de Amarante de que S. Gonçalo pode
muito bem ser considerado segundo fundador.
Efectuaram-se três Processos canónicos em ordem à Beatificação e
Canonização de S. Gonçalo, o último dos quais foi levado a cabo por
D. Rodrigo Pinheiro,
Bispo do Porto, por comissão do
Papa Pio IV (1561). A instâncias de EI-Rei D. Sebastião, do Arcebispo de Braga, da Ordem dos Pregadores, do
Cardeal D. Henrique
e da população de Amarante, a sentença de Beatificação foi promulgada a
16 de Setembro de 1561 pelo representante da Sé Apostólica,
confirmando-se a concessão de lhe tributar culto público permitido antes
pelo
Papa Júlio III (1551).
Mais tarde, o
Papa Clemente X, em 10 de Julho de 1671, estendeu a toda a
Ordem dos Pregadores
e a todo o reino de Portugal a concessão de honrarem este glorioso
Santo, um dos santos mais populares de Norte a Sul do País,
especialmente no Norte, com Missa e Ofício litúrgicos próprios. O seu
culto espalhou-se pelos domínios ultramarinos de Portugal, chegando à
Índia e ao
Brasil, como o confirma um longo e engenhoso sermão do
Padre António Vieira sobre S. Gonçalo. É celebrado a 10 de Janeiro.
É, no entanto, importante salientar que Gonçalo de Amarante, apesar de chamado
Santo pelo povo, na verdade é apenas
Beato, porque o processo de
canonização nunca foi levado a bom termo, ao contrário da sua
beatificação. Deste modo, a forma correcta de o denominar é
Beato Gonçalo de Amarante, o que é atestado pelos calendários litúrgicos portugueses.