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terça-feira, outubro 13, 2015

Notícia sobre a mina de Jales (II)

Consórcio falhou na mina de ouro de Jales mas Estado não resgata concessão
LUÍSA PINTO - 11.10.2015

O ouro continua sem ser explorado em Jales

Consórcio liderado pela Almada Mining, e onde está a empresa estatal EDM, não cumpriu obrigações. Tutela optou por prorrogar contrato em vez de o resgatar.

O período de concessão de prospecção e pesquisa nas minas de ouro Jales/Gralheira, em Vila Pouca de Aguiar, atribuído por três anos ao consórcio Almada Mining/Empresa de Desenvolvimento Mineiro, terminou em julho sem que as obrigações do consórcio tivessem sido integralmente cumpridas. Mesmo assim, ao invés de resgatar a concessão, quer pelo fim do prazo do período experimental, quer por incumprimento das obrigações contratualizadas, a Direcção Geral de Energia e Geologia activou o período de prorrogação previsto no contrato. Com isso, deu mais dois anos, e aceitou o pedido do consórcio para este alienar a outra empresa a sua posição de 85% do capital.

A Almada Mining (AM), detida pela canadiana Petaquilla Gold, tinha na altura da atribuição do contrato, em agosto de 2012, a exploração activa de uma mina de ouro no Panamá, bem como projectos de prospecção e exploração, semelhantes aos de Jales, em Salamanca.

No início de 2013 arrancou com a primeira fase da campanha de sondagens de prospecção (estavam previstos mais de 17 mil metros de perfuração que, após análise, iriam confirmar a viabilidade económica da mina), mas, apurou o PÚBLICO, desde setembro desse ano que não foi feito nenhum trabalho, e não chegaram a ser pagas as sondagens efectuadas (as dívidas a fornecedores, consultou o PÚBLICO nas contas reportadas em 2014, ascendem a 1,6 milhões), nem sequer foram enviadas para análise as sondagens entretanto efectuadas.

Confrontada pelo PÚBLICO, fonte do gabinete do secretário de Estado da Energia, Artur Trindade, referiu que a estatal EDM, que tem uma posição minoritária de 15% no consórcio, “tem vindo a cumprir escrupulosamente as suas obrigações nos termos do consórcio” e que as reportadas dificuldades económicas da AM, “à qual não é alheia a situação geral internacional do sector mineiro, com a queda generalizada das commodities e dos mercados de capitais”, é que colocaram em risco o cumprimento dos contratos em vigor.

O investimento anunciado na concessão das minas de Jales/Gralheira ascendia a 66 milhões de euros e foi feito numa altura em que a cotação do ouro se situava nos 1600 dólares por onça (isto depois de ter havido um pico, em 2011, que atingiu os 1800 dólares). Actualmente, a cotação ronda os 1100 dólares.

Considerado como como um dos projectos com maior potencial geológico no país, a tutela optou por aceitar o pedido formal do consórcio de fazer a transmissão dos 85% do capital que ainda detém.

Questionada acerca da possibilidade de a EDM ter um papel mais activo no consórcio, nomeadamente através da sua posição no mesmo, a mesma fonte do gabinete do secretário de estado da Energia respondeu que a tutela não entendeu essa solução como viável “dados os montantes de investimento que estão em causa e o risco inerente ao mesmos, tendo aqui presente um princípio de racionalidade económica em face dos recursos financeiros públicos disponíveis”.

Ricardo Oliveira Pinto, vice-presidente da EDM, afirmou que essa não poderia ser, também, a vocação da empresa pública que, enquanto tal, estaria no sector a fazer concorrência às empresas privadas. É, antes, “um garante da estabilidade do projecto”, e um fiel depositário “dos muitos anos de informação que existem relativos à exploração prévia da mina”.

A autorização administrativa para cedência da posição contratual foi dada pelo Estado ao mesmo tempo que entendeu activar a prorrogação do prazo que estava previsto no contrato inicial. Esta opção sobrepôs-se a outra que poderia ter estado em cima da mesa e que, segundo algumas fontes do sector ouvidas pelo PÚBLICO, seria a que mais adequada em termos legais: optar pelo resgate da concessão, e voltar a lançar a concessão no mercado, fomentando a concorrência.

Segunda a tutela, o processo de administrativo de cedência da posição contratual encontra-se ainda “em curso”, depois da empresa inicialmente indicada pela AM não ter garantido os pressupostos financeiros acordados para a transmissão. Actualmente, a EDM e a AM encontram-se “em conversações adiantadas com vários interessados no sentido de garantir a posição da AM e a continuidade do projecto nos moldes previamente acordados”.

Conhecedora da situação de impasse em que se encontra o consórcio, fonte oficial da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar disse ter “esperança” que seja rapidamente resolvido. “O processo não é da responsabilidade da autarquia, no entanto, há a expectativa que venha a resolver-se e que o cronograma dos trabalhos seja retomado”.

in Público - ler notícia

segunda-feira, outubro 12, 2015

Notícia sobre a mina de Jales (I)

Jales já foi chão que deu ouro
LUÍSA PINTO - 11.10.2015

A área de concessão da exploração de ouro em Jales/Gralheira atinge os 1.540 hectares, distribuídos pelas freguesias de Vreira de Jales e Alfarela de Jales. O consórcio Almada Mining/EDM comprometeu-se, em julho de 2012, a provar, ao Estado Português e ao mundo, que era possível, vinte anos depois, voltar a extrair ouro daquelas minas. As sondagens efectuadas durante a prospecção iriam demonstrar, como esperado, que ainda há ouro naquelas aldeias de Vila Pouca de Aguiar, e o período de três anos, estabelecido no contrato de concessão experimental, serviria para isso mesmo: fazer os necessários trabalhos de prospecção e pesquisa para avaliar melhor a viabilidade económica do projecto.

O ciclo económico de vida de uma exploração mineira é muito diferente de todas as outras actividades. Em primeiro lugar, por causa do desconhecimento inicial relativo à existência do minério necessário para uma exploração rentável economicamente. Em segundo, devido ao avultado investimento que é necessário, não só para os estudos de prospecção e de pré-viabilidade, mas também para os trabalhos de construção da própria mina. Em terceiro lugar, pelo facto do minério ser comercializado em bolsa, o que significa que os preços são ditados não pelo produtor, mas sim pelo consumidor.

A fase crítica do projecto mineiro costuma acontecer na procura de financiamento, já depois de identificado o potencial da mina. No caso das minas de Jales, aconteceu bem antes disso, com as perspectivas de entrada na fase industrial (e de construção da mina e a sua exploração, propriamente dita, altura em que costumam entrar no processo as grandes multinacionais) ainda muito longe no horizonte. Mas nas pequenas aldeias do concelho de Vila Pouca de Aguiar são muitos os que ainda acreditam que vão voltar a ver sair dali muitos quilos de ouro. E esta é uma fé interessada, até porque o município conseguiu garantir, como contrapartida, 2,5% dos lucros líquidos na fase de exploração definitiva das minas de Jales/Gralheira.

in Público - ler notícia