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domingo, novembro 05, 2023

O vergonhos rompimento da barragem em Mariana foi há oito anos...


O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Inicialmente a mineradora Samarco informara que duas barragens haviam se rompido - a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que, entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.

O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.

Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre. Segundo a prefeitura do município de Mariana, a reparação dos danos causados à infraestrutura local deverá custar cerca de cem milhões de reais.
  
Imagens de satélite antes e após o rompimento
   
Panorama do desastre

Controladas pela Samarco Mineração S.A. (um empreendimento conjunto entre a Vale S.A. e a BHP Billiton), as barragens de Fundão e Santarém fazem parte da Mina Germano, situada no distrito de Santa Rita Durão, município de Mariana, localizado na Microrregião de Ouro Preto da Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte. Foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.

A barragem de Fundão passava por um processo de alteamento, quando ocorre a elevação do aterro de contenção, pois o reservatório já chegava a seu ponto limite, não suportando mais o despejo dos dejetos da mineração.

Aproximadamente às 15.30 da tarde do dia 5 de novembro de 2015, a contenção apresentou um vazamento. Neste momento, uma equipe de funcionários terceirizados foi enviada ao local e tentava amenizar o vazamento esvaziando parte do reservatório. Por volta das 16.20 ocorreu o rompimento, que lançou um grande volume de lama sobre o vale do córrego Santarém.

Os subdistritos de Bento Rodrigues, que se localiza a cerca de 2,5 quilómetros vale abaixo, e Paracatu de Baixo, foram quase completamente inundados e destruídos pela enxurrada de lama que se seguiu após o desastre na barragem. Outros vilarejos e distritos situados no vale do rio Gualaxo também foram atingidos pela enxurrada.

Por conta de sua localização e dos acessos precários, contando apenas com estradas vicinais não pavimentadas para fazer contacto com os demais distritos e a sede do município, Bento Rodrigues ficou completamente inacessível por via terrestre, sendo possível o acesso apenas por helicóptero, o que dificultou em muito o acesso dos bombeiros para os trabalhos de resgate. Havia uma escola na área onde ocorreu a inundação e os professores conseguiram retirar os alunos antes da escola ser atingida.

Um agravante da situação foi que o empreendimento e as comunidades vizinhas à barragem não possuíam um plano de contingência, nem rotas de fuga que permitissem aos moradores se deslocarem a tempo para regiões seguras.
 
 
Esquema do rompimento de barragem
 
 
Danos ambientais

Por volta de 18h30 do dia 5 de novembro, os rejeitos de minério de ferro chegaram ao Rio Doce. A bacia do rio tem uma área de drenagem de cerca de 86.715 quilómetros quadrados, sendo 86% em Minas Gerais e o restante no Espírito Santo. No total, o rio abrange 230 municípios que utilizam o seu leito como subsistência.

Ambientalistas acreditavam ser incerta a possibilidade de se recuperar o rio. Segundo o biólogo e ecólogo André Ruschi, que atua na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (EBMAR), no distrito de Santa Cruz, município de Aracruz, no Espírito Santo, os rejeitos só começarão a ser eliminados do mar em cem anos, no mínimo.

Os rejeitos atingiram também a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, que fica em Santa Cruz do Escalvado, a cerca de cem quilómetros de Mariana. Segundo a concessionária que administra a barragem, o seu funcionamento não foi prejudicado.

No dia 9 de novembro, a prefeitura de Governador Valadares interrompeu a captação de água por conta da lama que invadiu o rio Doce. No dia seguinte, foi decretado Estado de Calamidade Pública, em função da falta de abastecimento de água na cidade. No dia 13 de novembro, o Exército Brasileiro montou um ponto de distribuição gratuita de água fornecida pela Samarco, na praça dos Esportes, no centro da cidade.

No dia 16 de novembro, a onda de lama e rejeitos de minério chegou ao município de Baixo Guandu, no noroeste do Espírito Santo. A prefeitura suspendeu o abastecimento pelo Rio Doce.

O IBAMA informou que, das 80 espécies de peixes que ocorrem no rio Doce, 11 estão ameaçadas de extinção e 12 são endémicas, só existem nesta bacia hidrográfica e podem ter sido extintas. Estima-se que ocorriam mais de cem espécies de peixes na bacia do rio Doce, das quais seis estão oficialmente ameaçadas de extinção. A mortandade verificada logo após o desastre e o grande número de espécies crípticas da bacia reforçam as preocupações sobre a extinção de peixes endémicos ainda desconhecidos e de espécies importantes para a sobrevivência das comunidades locais que exploram a atividade pesqueira. Os efeitos sobre as espécies que utilizam o estuário em alguma fase de seus ciclos de vida são desconhecidos, assim como os danos em longo prazo aos peixes marinhos.

No dia 22 de novembro, a lama chegou ao mar, no Norte do Espírito Santo. A prefeitura de Linhares interditou as praias de Regência e Povoação e emitiu um alerta para que as pessoas não entrem na água. Foram espalhadas placas ao longo das praias informando que a água está imprópria para o banho.

Em dois dias a mancha de lama se alastrou por mais de quinze quilómetros ao norte da foz do Rio Doce e mais sete quilómetros rumo ao sul. Uma das regiões afetadas foi a Reserva Biológica de Comboios, unidade de conservação costeira que protege o único ponto regular de desova de tartaruga-de-couro na costa brasileira.

Após atingir o oceano, a lama provavelmente afetará milhares de espécies da fauna e flora marinhas. O pouco estudado cnidário Kishinouyea corbini é uma espécie emblemática desta situação, pois é extremamente rara e tem uma distribuição geográfica restrita e que se sobrepõe com a área afetada pelo desastre.
 
Toxicidade dos rejeitos

Análises realizadas em Governador Valadares encontraram na massa de lama quantidades superiores aos valores aceitáveis de metais pesados como arsênio, chumbo e mercúrio. Esses metais, possivelmente utilizados em garimpos ilegais ao longo do rio Gualaxo do Norte, foram carregados pela torrente de lama.

Embora a mineradora Samarco tenha afirmado repetidamente que a lama não é tóxica, especialistas divergem. Segundo eles, os sedimentos que estavam depositados na barragem provavelmente contêm compostos químicos, usados pela mineradora para a remoção seletiva de sílica durante a flotação de minérios - ou seja, para remover as impurezas do minério. Compostos conhecidos como aminas de éter são geralmente utilizados para separar sílica do minério de ferro. Pelo menos alguns desses compostos, segundo o fabricante, Air Products and Chemicals,Inc., não são prontamente biodegradáveis e têm elevada toxicidade para os organismos aquáticos. São também capazes de elevar os níveis de pH da água e do solo, causando desequilíbrios nos ecossistemas.

Além disso, a lama reduz os níveis de oxigênio na água, e, à medida que os sedimentos endurecem, podem alterar o curso das correntes e diminuir a fertilidade do solo. Segundo Klemens Laschesfki, professor de geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, com o endurecimento da lama, a agricultura será dificultada, e a grande quantidade de lodo que irá se assentar no fundo do Rio Doce e afluentes poderá alterar o curso da bacia hidrográfica.

De acordo com os relatórios divulgados pela Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em 15 de dezembro de 2015, a grande mortandade de peixes teria sido causada não pela toxicidade dos rejeitos, mas pela concentração extremamente elevada de sedimentos (turbidez) na água, durante a passagem da lama, o que reduziu a concentração de oxigênio dissolvido na água e obstruiu as guelras dos peixes, fazendo com que morressem por asfixia. De acordo com as análises realizadas, a água do rio Doce não está contaminada por metais tóxicos. "As amostras de água coletadas ao longo do rio Doce não evidenciaram a presença de metais dissolvidos em quantidades que possam ser consideradas como contaminadas", conforme comunicado distribuído pelas duas entidades. Foram analisadas amostras de água e sedimentos de 25 pontos, desde o epicentro do desastre, em Mariana, até a foz do rio Doce, em Linhares (Espírito Santo). Os resultados dessas análises asseguram que, depois de adequadamente tratada, a água pode ser consumida sem riscos. Quanto à presença de metais pesados dissolvidos na água (arsénio, cádmio, mercúrio, chumbo, cobre, zinco e outros), os quantitativos são similares aos constatados em 2010 pela CPRM. Curiosamente, as concentrações mais altas de arsénio, manganês e ferro foram registadas no rio do Carmo, em áreas não afetadas pelos rejeitos da barragem.

Um grupo de cientistas independentes também coletou amostras de lama ao longo dos rios Doce, Gualaxo do Norte e Carmo. O grupo constatou a presença de metais pesados em diversos trechos desses cursos de água, inclusive em pontos a montante do trecho atingido pela lama da barragem, indicando que tais elementos já estavam presentes no rio antes mesmo do rompimento das barragens. Segundo a toxicologista Vivian Santos, integrante do grupo, foi possível observar uma quantidade muito grande de material de mineração (provavelmente metal inerte) nos sedimentos. De todo modo, ela acredita que "o monitoramento da concentração de metais dissolvidos nesta bacia hidrográfica deve ser muito mais rigoroso de agora em diante".

sábado, novembro 05, 2022

O rompimento da barragem em Mariana foi há sete anos


O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Inicialmente a mineradora Samarco informara que duas barragens haviam se rompido - a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que, entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.

O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio. Morreram 18 pessoas e 1 foi considerada desaparecida neste desastre.

Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre. Segundo a prefeitura do município de Mariana, a reparação dos danos causados à infraestrutura local deverá custar cerca de cem milhões de reais. 
As vítimas humanas são 18 mortos e 1 desaparecido.
  
Imagens de satélite antes e após o rompimento

  

sexta-feira, novembro 05, 2021

O rompimento da barragem em Mariana, no Brasil, foi há seis anos


O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Inicialmente a mineradora Samarco informara que duas barragens haviam se rompido - a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que, entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.

O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio. Morreram 18 pessoas e 1 foi considerada desaparecida neste desastre.

Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre. Segundo a prefeitura do município de Mariana, a reparação dos danos causados à infraestrutura local deverá custar cerca de cem milhões de reais.
  
Imagens de satélite antes e após o rompimento

  

quinta-feira, novembro 05, 2020

O rompimento da barragem em Mariana, no Brasil, foi há cinco anos


O rompimento da barragem em Mariana ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015 no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração denominada "Fundão", controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton.

Inicialmente a mineradora Samarco informara que duas barragens haviam se rompido - a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que, entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.

O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio.

Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre. Segundo a prefeitura do município de Mariana, a reparação dos danos causados à infraestrutura local deverá custar cerca de cem milhões de reais.
  
Imagens de satélite antes e após o rompimento

  

segunda-feira, novembro 16, 2015

Notícia sobre um desastre ambiental (e não só...) no Brasil

O Brasil não tem as cores da bandeira francesa por causa da lama de Minas Gerais
Kathleen Gomes (no Rio de Janeiro)
16.11.2015

A povoação de Bento Rodrigues depois da ruptura da barragem

Dilma e a imprensa demoraram a chegar a um dos maiores desastres ambientais da História do Brasil. Começou há 11 dias, pode durar décadas.

Quando o Cristo Redentor e o Palácio do Planalto se acendem à noite com as cores da bandeira francesa e Paris domina os noticiários, muitos brasileiros perguntam: e Mariana? A ruptura de duas barragens no estado de Minas Gerais há 11 dias provocou um dos maiores desastres ambientais da História do Brasil, mas quem olhasse ontem para as bancas de jornais ou assistisse ao telejornal da Globonews no domingo à noite não iria encontrar nada sobre o assunto. Uma frase tornou-se popular no Facebook brasileiro: “Minha foto do perfil não tem cores da bandeira de França devido a lama de Minas Gerais”.
Tratada inicialmente como uma tragédia de impacto meramente local, que soterrou uma comunidade rural de 600 habitantes, Bento Rodrigues, a enxurrada de lama, resíduos de minério e químicos – com um volume equivalente a 25 mil piscinas olímpicas – segue o seu percurso lento, mas imparável, no Rio Doce. A quinta maior bacia hidrográfica do Brasil já foi declarada oficialmente morta por ambientalistas e biólogos.
Poucos prestaram real atenção ao que estava a acontecer, antes da mancha de lama alastrar a centenas de quilómetros e antes dos vídeos de peixes a morrer numa sopa de lama e detritos circularem nas redes sociais. Boa parte da imprensa demorou em reagir e enviar repórteres para a região. A empresa mineira que administrava as duas barragens de Mariana, utilizadas para depositar os resíduos produzidos no tratamento e limpeza do minério de ferro, não ofereceu muitas explicações sobre as rupturas, apesar dos indícios de negligência, como a inexistência de um sistema de alerta das populações próximas das barragens, divulgadas na imprensa. Os políticos locais e regionais relativizaram inicialmente o sucedido, escudando-se de apontar responsabilidades à empresa mineira Samarco, que chegou a ser classificada como uma “vítima” do acidente por um representante do governo de Minas Gerais.
A Presidente Dilma Rousseff limitou-se a fazer algumas declarações de solidariedade e apoio no Twitter um dia depois da ruptura das barragens e foi cumprindo a sua agenda habitual em Brasília. Depois das críticas se avolumarem, Dilma visitou a região afectada na quinta-feira, uma semana depois da ruptura das barragens, mas apenas sobrevoou de helicóptero. Não se encontrou com as vítimas mais directamente atingidas pelo desastre.
“Foi muito ruim ela não ter descido”, diz ao PÚBLICO Alexandra Sandra Maranho, moradora de Mariana e coordenadora do Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) em Minas Gerais, uma organização histórica de génese popular destinada a representar e defender os direitos das populações adjacentes a barragens. “Ela deveria ter visitado as famílias” desalojadas pela inundação de lama, “deveria ter mostrado esse lado humano”, diz por telefone.
O MAB opera como porta-voz e negociador popular junto do poder político e das empresas mineiras. “Esses processos são muito delicados, porque deixam uma comunidade pobre diante de uma empresa muito grande, muito poderosa. A empresa procura sempre negociar com as famílias separadamente. O que a gente cobra do governo federal e estadual é que cuidem para que esses processos sejam feitos colectivamente, com a participação das famílias, e que não apliquem uma receita pronta”, explica Alexandra Maranho. “A empresa tem muita pressa em fazer as coisas. Quer logo resolver tudo para dizer que fez."
Alexandra Sandra Maranho encontrou-se com Dilma em Belo Horizonte na quinta-feira de manhã para apresentar as preocupações e necessidades das 183 famílias – num total de 631 pessoas – que estão realojadas em hotéis e pousadas de Mariana. Elas querem que a Samarco garanta o seu realojamento provisório, uma renda mensal e apresente um plano para reconstruir e manter a comunidade agregada. A Samarco tem feito propostas individuais de realojamento, “mas não tem uma metodologia de agrupamento”, no sentido de manter a comunidade unida. “Não tem como reconstruir a comunidade de Bento Rodrigues naquele lugar”, diz.
Na manhã da sua visita a Minas Gerais, Dilma Rousseff disse ter presenciado “talvez o maior desastre ambiental que afectou grandes regiões no país" e anunciou a aplicação de uma multa à Samarco no valor de 250 milhões de reais (60,8 milhões de euros).
Apesar de a Samarco anunciar desde o primeiro dia que a lama não é tóxica, análises laboratoriais das águas do Rio Doce detectaram a presença de metais pesados como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre e mercúrio. “O Rio Doce acabou. Parece que atiraram a tabela periódica inteira” para dentro do rio, disse Luciano Magalhães, director do Serviço Autónomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu, município no estado de Espírito Santo que declarou o estado de calamidade pública e que, como tantas outras localidades dependentes do Rio Doce, teve de suspender a distribuição de água potável à população.
O impacto ambiental do desastre ainda é incalculável, alertam biólogos, e pode demorar décadas até a biodiversidade e a fertilidade dos solos atingidos ser reposta. Alguns cientistas têm notado que, independentemente de ser tóxica ou não, a lama altera a profundidade e a largura do rio e reduz os níveis de oxigénio na água, afectando a reprodução e alimentação dos peixes. O último balanço oficial do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, fornecido ao PÚBLICO, é de sete mortos confirmados e 15 pessoas desaparecidas – nove são trabalhadores ligados à Samarco, seis são moradores de Bento Rodrigues, incluindo uma menina de quatro anos. Foram encontrados quatro corpos, mais aguardam identificação.
As causas da ruptura das barragens ainda estão por apurar. Segundo a revista Época, há já três anos que as barragens não eram inspeccionadas pela entidade pública responsável pela fiscalização das empresas e equipamentos mineiros, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). O DNPM não exige que as empresas emitam relatórios anuais sobre a segurança das suas barragens. E no estado de Minas Gerais existem apenas oito inspectores para 735 barragens.
“A fiscalização fica a cargo da empresa, que por sua vez contrata consultores externos. Isso tem uma vantagem e uma desvantagem. Vantagem: contrata-se um especialista que percebe do assunto. Desvantagem: a informação sobre a barragem perde-se ao longo do tempo, de cada vez que vai um especialista externo diferente”, diz ao PÚBLICO Anderson Pires Duarte, professor de engenharia de segurança no trabalho em Belo Horizonte. “Uma barragem não rompe de um dia para o outro. Ela apresenta sinais. Se você monitorizar constantemente, você vai conhecer essa barragem e perceber se há mudanças – de inclinação, fendas, infiltração, crescimento de vegetação, etc.”
Entre 2006 e 2008, Anderson analisou 123 barragens de Minas Gerais para uma investigação de mestrado e calculou que 30% tinham um potencial elevado de ruptura. Contudo, nenhuma delas estava classificada como tal pelo órgão ambiental de Minas Gerais. Apesar de não poder confirmar se as barragens de Mariana que se romperam estavam incluídas nesses 30% por ter assinado um acordo de confidencialidade em que se comprometeu a não identificar as barragens analisadas, o engenheiro diz que “pelo porte, volume e altura, e pelo facto de terem população a jusante, automaticamente se classificam nesse grupo de alto risco”.