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quinta-feira, fevereiro 15, 2024

Art Spiegelman nasceu há 76 anos

 
Art Spiegelman (Estocolmo, 15 de fevereiro de 1948) é ilustrador, cartunista e autor de histórias em quadradinhos norte-americano nascido na Suécia. Trabalhou durante a década de 90 na produção de charges, ilustrações e capas para revista The New Yorker. Duas das suas obras mais conhecidas são a semi-biográfica Maus e a coletânea de tiras em quadradinhos In the Shadows of No Towers. Em 1992 Spiegelman ganhou o prémio Pulitzer.
  

O anjo do Gueto de Varsóvia nasceu há 114 anos

   
Irena Sendler, em polaco: Irena Sendlerowa, nascida Krzyżanowska (Varsóvia, 15 de fevereiro de 1910 - Varsóvia, 12 de maio de 2008), também conhecida como o "Anjo do Gueto de Varsóvia," foi uma ativista católica dos direitos humanos durante a Segunda Guerra Mundial, tendo contribuído para salvar mais de 2.500 vidas, ao conseguir que várias famílias cristãs escondessem filhos de judeus no seio do seu lar e ao levar alimentos, roupas e medicamentos às pessoas barricadas no gueto, com risco da própria vida.
   
(...)  
 
Em 1965, a organização Yad Vashem de Jerusalém outorgou-lhe o título de Justa entre as Nações e nomeou-a cidadã honorária de Israel.
Em novembro de 2003 o presidente da República Aleksander Kwaśniewski, concedeu-lhe a mais alta distinção civil da Polónia: a Ordem da Águia Branca. Irena foi acompanhada pelos seus familiares e por Elżbieta Ficowska, uma das crianças que salvou, que a recordava como "a menina da colher de prata".
      

sábado, janeiro 27, 2024

Holocausto ou genocídio...? Não esquecemos nem perdoamos...

(imagem daqui)


 

 

ARBEIT MACHT FREI
  
Punham o comboio em marcha quando a hora
chegava. Carruagens fechadas, vagões atrelados,
o caminho era em frente. Olhavam a paisagem,
quando se distraíam ; mas logo voltavam
a atenção para os carris, gracejando ao trocarem
de lugar quando chegava a hora das refeições.
Nas paragens, bebiam pela garrafa; e nem
davam pelo que se passava atrás deles: estava
longe o destino, as paragens eram muitas, e
tinham de as compensar com horas extraordinárias
para cumprir o horário: regulamentos são ordens,
estavam à sua espera, e só depois de feita
a entrega podiam mudar o sentido da máquina
e fazer o caminho de volta, vagões vazios
e limpos, e tudo a andar mais depressa porque
já não havia peso a atrasar a marcha. São
assim os bons profissionais, cumpridores,
e não há notícia de greves, desvios,
perguntas sobre o que enchia os vagões.

    

  
    

in Fórmulas de uma luz inexplicável (2012) - Nuno Júdice

Terminou o peadelo de Auschwitz há setenta e nove anos...

Entrada para Auschwitz II-Birkenau, o campo de extermínio do complexo de Auschwitz
      
Auschwitz-Birkenau é o nome de uma rede de campos de concentração localizados no sul da Polónia operados pelo Terceiro Reich nas áreas polacas anexadas pela Alemanha Nazi, maior símbolo do Holocausto perpetrado pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. A partir de 1940, o governo de Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio nesta área. A razão direta para sua construção foi o facto de que as prisões em massa de judeus, especialmente polacos, por toda a Europa que ia sendo conquistada pelas tropas nazis, excediam em grande número a capacidade das prisões convencionais até então existentes. Ele foi o maior dos campos de concentração nazis, consistindo de Auschwitz I (campo principal e centro administrativo do complexo); Auschwitz II–Birkenau (campo de extermínio), Auschwitz III–Monowitz, e mais 45 campos satélites.
Por um longo tempo, Auschwitz era o nome alemão dado a Oświęcim, na Baixa Polónia, a cidade em volta da qual os campos se localizavam. Ele tornou-se novamente o nome oficial após a invasão da Polónia pela Alemanha em setembro de 1939. "Birkenau", a tradução alemã para Brzezinka (floresta de bétulas), referia-se originalmente a uma pequena vila polaca, que foi destruída, para que o campo pudesse ser construído.
Em 27 de abril de 1940, Heinrich Himmler, o Reichsführer da SS, deu ordens para que a área dos antigos alojamentos da artilharia do exército, no local agora oficialmente denominado Auschwitz, ex-Oświęcim, fosse transformada em campos de concentração. No complexo construído, Auschwitz II–Birkenau foi designado por ele como campo de extermínio e o lugar para a Solução final dos judeus. Entre o começo de 1942 e o fim de 1944, trens transportaram judeus de toda a Europa ocupada para as câmaras de gás do campo. O primeiro comandante, Rudolf Höss, testemunhou depois da guerra, no Julgamento de Nuremberga, que mais de três milhões de pessoas haviam morrido ali, 2.500.000 gaseificadas e 500.000 de fome e doenças. Hoje em dia os números mais aceites são em torno de 1,3 milhão, sendo 90% deles de judeus. Outros deportados para Auschwitz e executados foram 150 mil polacos, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades. Aqueles que não eram executados nas câmaras de gás morriam de fome, doenças infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas. 
Em 27 de janeiro de 1945 os campos foram libertados pelas tropas soviéticas, dia este que é comemorado mundialmente como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto, assim designado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, resolução 60/7, em 1 de novembro de 2005, durante a 42º sessão plenária da Organização. Em 1947, a Polónia criou um museu no local de Auschwitz I e II, que desde então recebeu a visita de mais de 30 milhões de pessoas de todo mundo, que já passaram sob o portão de ferro que tem escrito em seu cimo o infame motto "Arbeit macht frei" (O Trabalho Liberta). Em 2002, a UNESCO declarou oficialmente as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Património da Humanidade.
  

Arbeit macht frei
, O Trabalho Liberta, no topo do portão de entrada de Auschwitz
      

Porque hoje é o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto...

Um sobrevivente do Holocausto mostra a marca no braço da tatuagem do campo de concentração
 
O Dia Internacional da Lembrança do Holocausto é um dia internacional da lembrança das vítimas do Holocausto, o genocídio cometido pelos nazis e seus adeptos que ceifou a vida de milhões de judeus durante a II Guerra Mundial. Ele foi associado ao dia 27 de janeiro, pela resolução 60/7 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1 de novembro de 2005, durante a 42ª sessão plenária desta organização.
A resolução veio após a sessão especial realizada em 24 de janeiro de 2005, durante a qual a Assembleia Geral marcou o 60º aniversário da libertação dos campos de concentração e do fim do Holocausto. 27 de janeiro é a data, em 1945, que marca a libertação do maior campo de extermínio nazi, Auschwitz-Birkenau, pelas tropas soviéticas.
Antes de resolução 60/7, existiam vários dias nacionais de comemoração, como o Dia da Lembrança das Vítimas do Nacional-Socialismo, na Alemanha, criado através de um decreto do presidente Roman Herzog, em 3 de janeiro de 1996 e o Dia do Holocausto no Reino Unido, observado desde 2001 a 27 de janeiro. O Dia da Lembrança do Holocausto também é uma data nacional de comemoração na Itália.

   

 

 


quarta-feira, janeiro 17, 2024

O Levantamento do Gueto de Varsóvia começou há oitenta e um anos...

          
O Levantamento do Gueto de Varsóvia foi um ato de resistência no Gueto de Varsóvia, na Polónia em 1943, contra a ocupação nazi alemã. Nessa altura já se tinham dado os transportes da maioria dos habitantes do gueto. Cerca de 300 mil das 380 mil pessoas no gueto tinham sido levadas para o campo de extermínio de Treblinka, onde foram assassinadas imediatamente após a sua chegada, no final do verão de 1942. Os restantes habitantes do gueto sabiam agora o que os esperava e muitos deles preferiam morrer a lutar, em vez de morrer numa câmara de gás. A revolta foi esmagada pelo Gruppenführer da SS (então apenas Brigadeführer) Jürgen Stroop.
   
Antecedentes
Na Alemanha, os nazis chegaram ao poder. Adolf Hitler possuía a ambição de retomar os territórios perdidos durante a Primeira Guerra Mundial. De tal forma, em 1 de setembro de 1939, o Führer ordenou a invasão da Polónia. Em pouco tempo, no dia 27 de setembro, a cidade de Varsóvia foi tomada. O Exército Vermelho (União Soviética) aproveitou para invadir na porção ocidental do território beligerante, conforme previsto no Pacto Molotov-Ribbentrop. Após o fato, vários países declararam guerra à Alemanha nazi, incluindo a França e Reino Unido. Logo os nazis (antisemitas) perseguiriam os judeus, formando vários guetos - e um deles era o Gueto de Varsóvia.
   
O início

Entre julho e setembro de 1942, levas de deportações removeram mais de 300 mil judeus para o campo de concentração de Treblinka - local do assassinato de judeus. Reduzido a 60 mil pessoas - na sua maioria homens e mulheres ainda saudáveis, já que idosos e crianças foram enviados para a morte em Treblinka e a fome ceifou os restantes -, preferiram organizar uma resistência do que morrer em Treblinka. Formada a Organização da Luta Judaica (Zydowska Organizacja Bojowa, cuja sigla é ZOB) e a União Militar Judaica (Żydowski Związek Wojskowy, cuja sigla é ZZW), trataram de formar uma resistência.

Durante os três meses seguintes, todos os habitantes do gueto prepararam-se para aquilo que eles pensavam poder ser a luta final. Foram cavados túneis por baixo das casas, a maioria ligadas pelo sistema de esgotos e de abastecimento de água, dando acesso a zonas mais seguras de Varsóvia.

O apoio de sectores fora do gueto foi limitado, mas unidades polacas da Armia Krajowa (AK) e Gwardia Ludowa (GL) atacaram esporadicamente unidades alemãs em sentinela perto das muralhas do gueto. Uma unidade polaca da AK, nomeadamente a KB sob o comando de Henryk Iwański, chegou mesmo a lutar dentro do Gueto, juntamente com ŻZW. A AK tentou por duas vezes explodir a muralha do gueto mas sem muito sucesso.

Em 21 de janeiro de 1943, realizaram a primeira ação na Rua Niska. Liderados por Mordechaj Anielewicz, formaram uma trincheira e empreenderam um ataque a soldados nazis. Doze soldados alemães morreram. A ZOB também se revoltou contra a Polícia Judaica, formada por membros da própria comunidade e controlado pelos nazis.

A resistência não era capaz de libertar o gueto ou destruir o aparelho nazi local. A ZOB possuía o objetivo de uma morte digna, que não fosse aquela reservada em Treblinka, num misto de orgulho e esperança. Heinrich Himmler ordenou ao general Jürgen Stroop que extinguisse o Gueto de Varsóvia até, no máximo, em meados de fevereiro.

Esmagamento da revolta

A batalha final começou na noite da Páscoa judaica, no domingo 19 de abril de 1943. Três mil homens nazis confrontaram a resistência de 1,5 mil moradores. Os partisans judaicos dispararam e atiraram granadas contra patrulhas alemãs a partir de becos, esgotos, janelas. Os nazis responderam detonando as casas bloco por bloco e cercando e matando todos os judeus que podiam capturar.

De acordo com relatos, verificava-se cheiro de cadáveres nas ruas, das bombas incendiárias e mulheres saltando dos andares superiores dos prédios com crianças nos braços. Em 8 de maio, os rebeldes foram cercados. Alguns deles, preferiram o suicídio do que ser levado a campos de extermínio. Às 20 horas e 15 minutos do dia 16 de maio, dá-se o fim do levantamento, com a destruição da sinagoga do gueto, então em ruínas.

Após as revoltas, o gueto tornou-se o local onde os prisioneiros e reféns polacos eram executados pelos alemães. Mais tarde, foi criado um campo de concentração na área do gueto. Chamava-se KL Warschau. Durante a revolta de Varsóvia que se seguiu, a unidade AK polaca "Zoska" conseguiu salvar 380 judeus do campo de concentração e a maioria deles juntou-se à AK.

  
 
in Wikipédia

domingo, dezembro 31, 2023

Simon Wiesenthal, o último caçador de nazis, nasceu há 115 anos

    
Simon Wiesenthal (Buczacz, 31 de dezembro de 1908 - Viena, 20 de setembro de 2005) foi um sobrevivente de campos de concentração nazis da Segunda Guerra Mundial. Após passar cerca de quatro anos de sua vida nos campos de Janowska, Plaszow e Mauthausen, durante a Segunda Guerra Mundial, dedicou sua vida a localizar, identificar e levar à justiça criminosos nazis.
Wiesenthal morreu durante o sono, aos 96 anos, em Viena, em 20 de setembro de 2005, e foi sepultado na cidade de Herzliya, em Israel, a 23 de setembro. Deixou uma filha, Paulinka Kriesberg, e três netos. O Centro Simon Wiesenthal, localizado em Los Angeles, foi assim nomeado em sua honra.
   
Vida
Wiesenthal nasceu em 1908, em Buczacz, cidade pertencente à Galícia, no Império Austro-Húngaro (hoje na Ucrânia). Formou-se em Arquitetura na Universidade de Praga em 1932. Em 1936 casou com Cyla Müller. Fixa residência em Lvov, cidade da Polónia que viria a ser ocupada pela União Soviética (e atualmente pertence à Ucrânia).
Quando a Alemanha nazi invadiu a União Soviética, em junho de 1941, Wiesenthal e a sua família foram detidos. Passou quatro anos e meio em vários campos de concentração, como o de Mauthausen, de onde foi libertado, pelas tropas americanas, em maio de 1945. Reencontra a sua esposa, com a qual teve uma filha em 1946, passando a viver em Linz, na Áustria.
Criador de um centro de documentação sobre as vítimas do Holocausto em 1947, Wiesenthal foi responsável pela prisão de mais de 1.100 criminosos nazis. Nas suas memórias, Justiça, não Vingança (1989), afirmou que “os nazis não escaparão sem punição pelo assassinato de milhões de seres humanos”. Wiesenthal investigou o paradeiro de Adolf Eichmann, alto oficial nazi que organizava o transporte de judeus para os campos de extermínio na Europa. Encontrado por ele, Eichmann foi capturado na Argentina pela Mossad (serviço secreto israelita) e levado para ser julgado em Israel, sendo condenado à morte, no ano de 1962.
Depois de seis décadas de trabalho anunciou a sua retirada em 2003. Em 19 de fevereiro de 2004 foi feito cavaleiro (KBE) pela rainha Isabel II da Inglaterra, em função dos seus contributos para a humanidade. Foi nomeado quatro vezes para o Prémio Nobel da Paz, mas nunca se consagrou como vencedor.
  

domingo, novembro 19, 2023

Guimarães Rosa morreu há 56 anos...

(imagem daqui)

 

João Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27 de julho de 1908 - Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967), foi um dos mais importantes escritores brasileiros de todos os tempos. Foi também médico e diplomata.
Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.
  
Biografia
Foi o primeiro dos seis filhos de Florduardo Pinto Rosa ("Flor") e de Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitita"). Começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando-se no Francês quando ainda não tinha sete anos, como se pode verificar neste trecho de uma entrevista concedido a uma prima, anos mais tarde:
 
Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polaco, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.
 
Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou. Em 1925, matriculou-se na então "Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais", com apenas 16 anos. Em 27 de junho de 1930, casou-se com Lígia Cabral Pena, de apenas 16 anos, de quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano formou-se e passou a exercer a profissão em Itaguara, então município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contacto com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração à sua obra. De volta de Itaguara, Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932, indo para o setor do Túnel em Passa-Quatro (MG) onde tomou contacto com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, naquela ocasião o médico-chefe do Hospital de Sangue. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina. No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da sua segunda esposa, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as quotas legalmente estipuladas, tendo, por essa ação humanitária e de coragem, ganho, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, o Yad Vashem, que é o memorial oficial de Israel para lembrar as vitimas judaicas do Holocausto. No Brasil, na sua segunda candidatura para a Academia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade (1963). Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimónia de posse durante quatro anos. No seu discurso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 1967, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte: "…a gente morre é para provar que viveu." Faleceu três dias mais tarde, na cidade do Rio de Janeiro, a 19 de novembro. Se a certidão de óbito atestou que morreu de enfarte do miocárdio, a sua morte permanece um mistério inexplicável, sobretudo por estar previamente anunciada na sua obra mais marcante - Grande Sertão: Veredas -, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional". Talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não-ser, verdade e mentira. Diadorim-Mediador, a alma que se perde na consumação do pacto com a linguagem e a poesia. Riobaldo (Rosa-IO-bardo), o poeta-guerreiro que, em estado de transe, dá à luz obras-primas da literatura universal. Biografia e ficção se fundem e se confundem nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, desaparecido prematuramente, aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática.
  
Contexto literário
Realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções linguísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar o seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da literatura de ficção brasileira.
Guimarães Rosa também seria incluído no cânone internacional a partir do boom da literatura latino-americano pós-1950. O romance entrara em decadência nos Estados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema), especialmente após a morte de Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Hemingway (1961), Faulkner (1962). E, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período os imortais Mario Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba) e mais recentemente Angel Ramá (Uruguai).
       

 

 

CONSCIÊNCIA CÓSMICA


Já não é preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem de deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
E deveria rir, se me restasse o riso,
das tormentas que pouparam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo de meu corpo...



in
Magma (1936) - João Guimarães Rosa

domingo, outubro 29, 2023

O criminoso nazi Joseph Goebbels nasceu há 126 anos

    
Paul Joseph Goebbels (Rheydt, 29 de outubro de 1897 – Berlim, 1 de maio de 1945) foi um político alemão e Ministro da Propaganda na Alemanha nazi entre 1933 e 1945. Um associado e devoto apoiante de Adolf Hitler, ficou conhecido pelas suas capacidade oratórias em público e pelo seu profundo e fanático anti-semitismo e a sua crença na conspiração internacional judaica que o levou a apoiar o extermínio dos judeus no Holocausto.
Goebbels, que ambicionava ser escritor, obteve o grau de Doutor em Filosofia pela Universidade de Heidelberg em 1921. Em 1924, aderiu ao partido nazi, onde trabalhou com Gregor Strasser na sua delegação do norte. Em 1926, é nomeado Gauleiter (líder distrital) por Berlim, onde começou a interessar-se pela utilização da propaganda para promover o partido e o seu programa. Após a chegada ao poder dos nazis em 1933, o Ministério da Propaganda de Goebbels rapidamente conseguiu o controle absoluto da imprensa, arte e informação na Alemanha. Era um particular adepto em usar a recente rádio e os filmes para fins de propaganda. Os temas centrais eram o anti-semitismo, ataques ao bolchevismo e, após o início da Segunda Guerra Mundial, a tentativa de moldar a moral.
Em 1943, Goebbels começou a pressionar Hitler para que este introduzisse medidas que levassem a uma "guerra total", incluindo o encerramento de negócios não essenciais ao esforço de guerra, recrutamento de mulheres para a força de trabalho e o alargamento do recrutamento militar àqueles que, até ali, estavam isentos de tal serviço na Wehrmacht. Em 23 de julho de 1944, Hitler nomeou-o Plenipotenciário do Reich para a Guerra Total. Goebbels tomou várias medidas, mal-sucedidas, para aumentar o número de pessoas disponíveis para a produção de armamento e para a Wehrmacht.
À medida que a guerra se aproximava do fim e que a Alemanha nazi se encontrava à beira da derrota, Magda Goebbels e os seus filhos juntaram-se a ele em Berlim, indo para o Vorbunker, parte do complexo de bunkers de Hitler, em 22 de abril de 1945. Hitler suicidou-se em 30 de abril. De acordo com o seu testamento, Goebbels era o seu sucessor como Chanceler da Alemanha; este apenas esteve um dia no seu novo cargo. No dia seguinte, Goebbels e a sua mulher suicidaram-se, depois de terem assassinado seis dos seus filhos, com cianeto.

segunda-feira, outubro 09, 2023

Schindler morreu há 49 anos...

  
Oskar Schindler (Svitavy, 28 de abril de 1908 – Hildesheim, 9 de outubro de 1974) foi um industrial alemão da região sudeta, espião e membro do Partido Nazi, que salvou da morte cerca de 1.200 judeus durante o Holocausto, empregando-os nas suas fábricas de esmaltes e munições, localizadas nas atuais Polónia e República Checa, respetivamente. É o tema principal do romance de 1982, Schindler's Ark, e do filme de 1993, Schindler's List, que mostra a sua vida como um oportunista interessado no lucro, inicialmente, mas que acabou por mostrar uma iniciativa e dedicação extraordinárias, com o objetivo de salvar as vidas dos seus empregados judeus.
Schindler cresceu em Zwittau, Morávia, e teve vários trabalhos até se juntar à Abwehr, o serviço de informação da Alemanha Nazi, em 1936. Aderiu ao Partido Nazi em 1939. Antes da ocupação alemã da Checoslováquia, em 1938, Schindler recolhia informações sobre caminhos-de-ferro e movimentos de tropas para o governo alemão. Foi preso por espionagem pelo governo checoslovaco, mas foi libertado, segundo os termos do Acordo de Munique, em 1938. Schindler continuou o seu trabalho de recolha de informações para os nazis, na Polónia, em 1939, antes da invasão daquele território, no início da Segunda Guerra Mundial.
Em 1939, Schindler obteve uma fábrica de esmaltes em Cracóvia, Polónia, que empregava 1.750 trabalhadores, dos quais cerca de mil eram judeus, no auge da produção da fábrica, em 1944. As suas ligações da Abwehr ajudaram Schindler a proteger os trabalhadores judeus de uma deportação certa e da morte nos campos de concentração nazis. De início, Schindler estava apenas interessado em fazer dinheiro fácil com o negócio. Mais tarde começou a proteger os seus trabalhadores, sem olhar a custos. Com o tempo, Schindler teve que subornar os oficiais nazis com dinheiro e ofertas de luxo, obtidas no mercado-negro, para manter os seus empregados seguros e vivos.
Quando a Alemanha começou a perder a guerra, em julho de 1944, as Schutzstaffel (SS) começaram a fechar os campos de concentração a leste e a evacuar os restantes prisioneiros para oeste. Muitos foram mortos no campo de concentração de Auschwitz e Gross-Rosen. Schindler convenceu o SS-Hauptsturmführer Amon Göth, comandante do Campo de contração de Kraków-Płaszów, a transferir a sua fábrica para Brünnlitz, na Região dos Sudetas, poupando, assim, os seus trabalhadores da morte nas câmaras de gás. Utilizando os nomes fornecidos pelo oficial da polícia dos guetos judeus Marcel Goldberg, o secretário de Göth, Mietek Pemper, compilou, e passou a papel, uma lista de 1.200 judeus que viajaram para Brünnlitz em outubro de 1944. Schindler continuou a subornar os oficiais das SS para impedir o massacre dos seus empregados, até ao final da Segunda Guerra Mundial na Europa, em maio de 1945, altura em que tinha já gasto a sua fortuna em subornos e no mercado-negro para comprar provisões para os seus funcionários.
Schindler foi viver para a Alemanha a seguir à guerra, onde foi apoiado, financeiramente, por organizações judaicas de salvamento. Depois de receber um reembolso parcial pelos seus gastos em tempo de guerra, viajou para a Argentina, com a sua esposa, para uma quinta. Quando entrou em bancarrota em 1958, Schindler deixou a sua mulher e regressou à Alemanha, onde foi mal-sucedido em vários negócios, e teve que ser ajudado pelos seus Schindlerjuden ("Judeus de Schindler") – aqueles cujas vidas ele salvou durante a guerra. Schindler recebeu a designação de justo entre as nações pelo governo de Israel em 1963, e morreu a 9 de outubro de 1974.
   
  
in Wikipédia

sexta-feira, setembro 29, 2023

O massacre nazi de Babi Yar foi há 82 anos...


Ravina de Babi Yar, em Kiev
        
Babi Yar é uma ravina existente em Kiev, a capital da Ucrânia, que ficou conhecida na história como local de um dos maiores massacres de judeus e civis da então União Soviética pelos nazis, durante a II Guerra Mundial.
Em 29 e 30 de setembro de 1941, 92.771 civis ucranianos judeus foram levados a Babi Yar e assassinados coletivamente, num dos maiores massacres de massa da história. Nos meses que seguiram, milhares de outros judeus e não-judeus russos foram capturados, trazidos à ravina e fuzilados, num total de cerca de 100.000 mortos.
   
   
História
A ravina de Babi Yar é mencionada por registos históricos desde 1401 e através dos tempos sua área foi usada para diferentes propósitos, incluindo campos militares e cemitérios, um dos quais judeu, foi fechado em 1937. Após a invasão da URSS pelas tropas nazis, em junho de 1941, a cidade de Kiev acabou por cair nas mãos dos alemães, depois de 45 dias de batalha, em 19 de setembro. Poucos dias após a ocupação, as execuções começaram, com o fuzilamento de 700 pacientes de um hospital psiquiátrico da cidade.
Em 28 de setembro, um aviso foi afixado pelos postes e muros de Kiev, dirigido aos judeus:

Ordena-se a todos os judeus residentes de Kiev e suas vizinhanças que compareçam à esquina das ruas Melnyk e Dokterivsky, às 8 horas da manhã de segunda-feira, 29 de setembro de 1941 trazendo documentos, dinheiro, roupa interior, etc. Aqueles que não comparecerem serão fuzilados. Aqueles que entrarem nas casas evacuadas por judeus e roubarem pertences destas casas serão fuzilados.
   
Os judeus levados à ravina esperavam ser embarcados em comboios. A multidão de homens, mulheres e crianças era grande o bastante para que ninguém tomasse conhecimento do que estava para acontecer a não ser tarde demais. Todos passavam por um corredor de soldados gritando, em grupos de dez, e de seguida fuzilados; ao escutarem o barulho das metralhadoras do grupo logo à frente, já não tinham como escapar.
O massacre foi realizado em dois dias, a cargo da unidade C do Einsatzgruppen, o esquadrão da morte das SS, apoiados por membros de um batalhão das Waffen-SS; unidades da polícia ucraniana também foram usadas para agrupar e conduzir os judeus até ao local de fuzilamento, o que provocaria uma grande discussão na Ucrânia após a guerra.
Além deste massacre, Babi Yar foi alvo de milhares de outras execuções durante os dois anos de ocupação nazi de Kiev. O número total de mortos na ravina não é exato, mas o número mais aceite, cerca de 100 mil, foi fornecido pelo cálculo de moradores, obrigados a enterrar os corpos. Tempos depois, o campo de concentração de Syrets foi erguido no local e nele internados prisioneiros de guerra russos, civis comunistas e combatentes da resistência, que ali eram executados.
Quando os nazis se retiraram de Kiev, fizeram tentativas de esconder os sinais das atrocidades cometidas durante os anos de ocupação. Entre agosto e setembro de 1943, o campo de Syrets foi parcialmente demolido e diversos corpos exumados e queimados, com as cinzas espalhadas pelas áreas vizinhas. Na noite de 29 de setembro de 1943, quando o campo estava a ser desmantelado, houve uma revolta entre os prisioneiros e quinze deles conseguiram escapar; após retomar o controle da situação, os alemães fuzilaram os 311 sobreviventes.
  
Selo ucraniano, recordando os 70 anos do Massacre de Babi Yar
      
Memória
Quando o Exército Vermelho retomou o controle de Kiev, em novembro de 1943, o campo foi transformado num local de internamento de prisioneiros alemães e utilizado até 1946, quando foi totalmente demolido. Nos anos 50 e 60, a área tornou-se um grande parque e um complexo de apartamentos.
O governo soviético sempre desencorajou que se desse ênfase ao massacre de judeus em Babi Yar, preferindo oficialmente que a tragédia fosse lembrada como um crime cometido contra todo o povo soviético e a população de Kiev. Diversas tentativas de se erguer um memorial judeu no local dos massacres foram adiadas. Em 1976 foi erguido um memorial em honra de todos os cidadãos soviéticos ali fuzilados, mas apenas em 1991, com o fim da URSS, os judeus puderam finalmente erguer o seu próprio monumento.
Sobre Babi Yar, o escritor e sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel escreveu:
   
As testemunhas oculares disseram que, meses após as mortes, o solo de Babi Yar continuava a esguichar geyseres de sangue.
   

domingo, setembro 17, 2023

O conde Folke Bernadotte foi assassinado há 75 anos...

   
Folke Bernadotte, conde de Wisborg (Estocolmo, 2 de janeiro de 1895 - Jerusalém, 17 de setembro de 1948), mais conhecido como Conde Bernadotte, foi um nobre e diplomata sueco,  conhecido pela negociação da libertação de cerca de 31.000 prisioneiros de campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo 423 judeus dinamarqueses de Theresienstadt, que foram libertados em 14 de abril de 1945
  
Vida

O conde era membro da Casa de Bernadotte, a família real sueca. Era filho do príncipe Óscar Bernadotte, duque de Götland e conde de Wisborg (que depois perderia o título de duque de Götland por não ter se casado com alguém pertencente à realeza ou alta nobreza - como dita a tradição nobiliárquica sueca -, mas permaneceria com o título nobiliárquico de conde de Wisborg, por este título ser do Luxemburgo) e da princesa Ebba (nascida Ebba Henrietta Munck af Fulkila, sendo filha do nobre e militar, coronel Carl Jacob Munck af Fulkila, e da baronesa Henrica Cederström). Era neto da rainha Sofia (nascida princesa de Nassau) e do rei Óscar II da Suécia e Noruega, rei dos dois países até 7 de junho de 1905; e depois somente Rei da Suécia até à data da sua morte, em decorrência da separação dos dois países na data supracitada.

O conde casou com a americana Estelle Manville, então titulada Estelle Bernadotte, condessa de Wisborg, tendo sido o primeiro membro da realeza europeia a casar-se em território americano.

Após a aprovação do Plano de Partição da Palestina, em 29 de novembro de 1947, agravaram-se os confrontos entre judeus e árabes na Palestina, então sob mandato britânico.

Em 20 de junho de 1948, o conde foi escolhido pelo Conselho de Segurança da ONU para ser o mediador entre as partes em conflito, fazer cessar as hostilidades e supervisionar a aplicação da partição territorial da Palestina Mandatária. Foi o primeiro mediador oficial da história da organização. Todavia, pouco depois do início da missão, em setembro do mesmo ano, Bernadotte foi assassinado em Jerusalém, pelo grupo sionista Lehi. A decisão de matá-lo foi tomada por Natan Yellin-Mor, Yisrael Eldad e Yitzhak Shamir, que mais tarde tornar-se-ia primeiro-ministro de Israel.

 
  
Brasão do conde de Wisborg  
   

sexta-feira, agosto 04, 2023

Anne Frank foi denunciada e presa há 79 anos...

Estátua de Anne Frank na Casa de Anne Frank, em Amesterdão
    
Annelisse Maria Frank, mais conhecida como Anne Frank (Frankfurt am Main, 12 de junho de 1929 - Bergen-Belsen, 31 de março de 1945), foi uma adolescente alemã de origem judaica, vítima do holocausto, que morreu aos quinze anos de idade num campo de concentração. Ela se tornou mundialmente famosa com a publicação póstuma de seu diário, no qual escrevia as experiências do período em que sua família se escondeu da perseguição aos judeus dos Países Baixos. O conjunto de relatos, que recebeu o nome de Diário de Anne Frank, foi publicado pela primeira vez em 1947 e é considerado um dos livros mais importantes do século XX.
Embora tenha nascido na cidade alemã de Frankfurt am Main, Anne passou a maior parte da vida em Amesterdão, nos Países Baixos. A sua família mudou para lá em 1933, ano da ascensão dos nazis ao poder. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o território neerlandês foi ocupado e a política de perseguição do Reich foi estendida à população judaica residente no país. A família de Anne ficou escondida em julho de 1942, abrigando-se num sótão secreto de um edifício comercial.

(...)
    
Na manhã de 4 de agosto de 1944, o anexo secreto foi invadido pela Polícia de Segurança Alemã (Grüne Polizei) em consequência da denúncia de um informante, que jamais foi identificado. Liderados pelo oberscharführer da Schutzstaffel Karl Silberbauer do Sicherheitsdienst, o grupo incluiu pelo menos três membros da Polícia de Segurança. Anne Frank, a sua família, além dos van Pelses e dos Pfeffer foram levados para a sede Gestapo, onde foram interrogados e detidos durante a noite. Em 5 de agosto, foram transferidos para a Huis van Bewaring (Casa de Detenção), uma prisão superlotada na Weteringschans.
   

Raoul Wallenberg nasceu há cento e onze anos...

   
Raoul Wallenberg (Lidingö, 4 de agosto de 1912 - Moscovo, 17 de julho de 1947) foi um arquiteto sueco, empresário e diplomata. Tornou-se famoso por conta de seus esforços bem sucedidos para resgatar dezenas de milhares de judeus da Hungria ocupada pelos nazis durante o Holocausto.
Em 17 de janeiro de 1945, durante o cerco de Budapeste pelo Exército Vermelho, Wallenberg foi detido pelas autoridades soviéticas, sob suspeita de espionagem e, posteriormente, desapareceu. Mais tarde, foi relatado que morreu em 17 de julho de 1947, enquanto estava preso na prisão de Lubyanka, em Moscovo, Rússia. Os motivos por trás da prisão de Wallenberg pelo governo soviético, juntamente com as circunstâncias de sua morte, permanecem misteriosas.
Devido a suas ações corajosas em nome dos judeus húngaros, Raoul Wallenberg tem sido objeto de numerosas honrarias humanitárias nas décadas seguintes a sua morte presumida. Em 1981, o deputado Tom Lantos, ele próprio salvo por Wallenberg, elaborou uma lei tornando Wallenberg cidadão honorário dos Estados Unidos. Ele também é cidadão honorário do Canadá, Hungria e Israel. Também em Israel, Raoul Wallenberg é considerado como um dos "Justos entre as Nações", citado e homenageado no Yad Vashem, o Memorial do Holocausto.

Memorial Raoul Wallenberg, Rua Wallenberg, Tel-Aviv, Israel
   
Raoul Wallenberg nasceu em Kappsta, um distrito da cidade de Lidingö, nas proximidades de Estocolmo, onde seus avós maternos, o professor Per Johan e sua esposa Sophie, tinham uma casa de verão. O seu avô paterno, Gustaf Wallenberg, era diplomata e trabalhou em Tóquio, Constantinopla e Sofia. Os seus pais eram Raoul Oscar Wallenberg (1888 – 1912), oficial da Marinha Sueca, e Maria "Maj" Sofia (18911979), casados em 1911. Raoul Oscar morreu de cancro quando o seu filho contava apenas três meses de idade. Em 1918, sua mãe casou novamente e teve mais dois filhos.
Em 1931, Wallenberg foi estudar arquitetura na Universidade de Michigan, nos EUA. Na faculdade, ele aprendeu Inglês, Alemão e Francês.
De volta à Suécia, o seu diploma americano de arquiteto não foi validado pelas autoridades locais. No entanto, o seu avô conseguiu-lhe um emprego na Cidade do Cabo, África do Sul, no escritório de uma empresa sueca de venda de materiais de construção. Entre 1935 e 1936, Wallenberg trabalhou numa filial do Banco Holandês em Haifa, na então Palestina Britânica, onde travou contacto com a grande comunidade judaica local. De volta à Suécia em 1936, obteve um cargo em Estocolmo, com a ajuda de seu tio e padrinho, Jacob Wallenberg, numa empresa de exportação e importação de propriedade da Kálmán Lauer, um judeu húngaro.
A partir de 1938, o Reino da Hungria, sob a regência de Miklós Horthy, mergulhou numa onda de antissemitismo. Foram adotadas medidas inspiradas nas leis recentemente promulgadas na Alemanha Nazista. As novas leis húngaras restringiam o acesso dos judeus a inúmeras profissões. Na tentativa de driblar as leis anti-judaicas, Kalman Lauer nomeou Wallenberg como seu “sócio” e representante. Com isso, ele passou a viajar para a Hungria para fazer negócios em nome de Lauer e de zelar pelos membros da grande família de Lauer que permaneceram em Budapeste. Ele rapidamente aprendeu a falar húngaro e também se tornou conhecedor dos métodos da burocracia alemã da época, por ter de fazer negócios com empresas nazis. Tal conhecimento seria fundamental mais tarde, quando se aproveitou das brechas legais nazis para salvar judeus.
Estando em contacto bastante estreito com os alemães em plena Guerra, Wallenberg pode testemunhar a campanha de perseguições e extermínio contra os judeus, empreendida pelo regime nazi. Tais factos chocaram o empresário, que a partir de 9 de julho de 1944, foi nomeado primeiro-secretário da delegação sueca em Budapeste. Agora feito diplomata, Wallenberg aproveitou da imunidade, de seu poder e de seus contactos para expedir passaportes especiais (“schutzpass”) para cidadãos judeus. Estes eram qualificados como cidadãos suecos, à espera de repatriamento. Embora tais documentos não fossem legalmente válidos, eles pareciam impressionar os oficiais nazis que ocupavam a Hungria, que acabavam dando passagem aos seus portadores.
Além disso, Wallenberg alugou casas para os refugiados judeus em nome da embaixada sueca, colocando nas suas entradas falsas identificações, tais como "Biblioteca da Suécia" ou "Instituto de Pesquisas Suecas". Protegidas pelo status diplomático, tais casas não podiam ser invadidas pelos nazis e os judeus encontravam nelas refúgio.
Wallenberg habilmente negociou com oficiais nazis, como Adolf Eichmann e o comandante das forças armadas alemãs na Hungria, general Gerhard Schmidhuber. A dois dias da chegada do Exército Vermelho em Budapeste, ele conseguiu cancelar uma leva de judeus que seriam deportados para campos de concentração e extermínio da Alemanha, usando um bilhete assinado por um amigo fascista húngaro, Pal Szalay, que os ameaçou de processo por crimes de guerra.
Estima-se em cem mil o número de judeus que teriam sido salvos da morte por conta das ações de Raoul Wallenberg.
A chegada dos soviéticos à Hungria determinou o fim das perseguições aos judeus. Mas foi o início do fim de Raoul Wallenberg. Em 17 de janeiro de 1945, quando a guerra ainda se desenrolava, Wallenberg e seu motorista particular foram presos pelas autoridades comunistas, acusados de serem "espiões da OSS", a agência de espionagem britânica. De Budapeste, Wallenberg foi deportado para Moscovo, onde foi encarcerado na prisão de Lubyanka. Posteriormente foi transferido para a prisão de Lefortovo, também em Moscovo, onde permaneceria até à sua suposta morte, dois anos depois.
As condições das cadeias soviéticas eram tão terríveis quanto as vigentes nos campos de concentração nazis. Torturas, privações extremas, terrorismo psicológico e execuções sumárias faziam parte dos "métodos" comunistas. Incomunicável, Wallemberg teria morrido em Lefortovo no dia 17 de julho de 1947. Pelo menos foi isso o que as autoridades russas afirmaram em 6 de fevereiro de 1957, após uma intensa campanha internacional por notícias de seu paradeiro. Mesmo após tal notícia, prosseguiram as investigações em busca de seu paradeiro. Em 1981, sobreviventes dos gulags afirmaram terem conhecido um prisioneiro estrangeiro com as mesmas características físicas de Raoul Wallemberg, ainda vivo muitos anos depois da data da sua suposta morte.
Contudo em 1991, Vyacheslav Nikonov foi encarregado pelo governo da Rússia de investigar o destino de Wallenberg. Ele concluiu que Wallenberg morreu em 1947, executado como prisioneiro na prisão de Lubyanka.