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domingo, dezembro 29, 2013

Os Tablets portugueses são geológicos e lindos...

Valongo - Quadros de ardósia «dão lições» no estrangeiro
Sara Pelicano - sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os grandes quadros negros, ainda há poucas décadas comuns nas paredes das salas de aula, são produzidos a partir da ardósia, uma rocha. Por cá, estes quadros, inseparáveis do giz, caíram em desuso. No estrangeiro continuam a fazer sucesso. Uma empresa de Valongo exporta 100% da sua produção e já pensa em novas aplicações para este produto integralmente nacional.

O quadro negro e o giz branco pertencem hoje às memórias escolares. Nas escolas nacionais, há cerca de três décadas, a esquematização das lições dos professores eram traçadas no quadro de ardósia, uma presença que foi substituída por quadros brancos plásticos e canetas de tinta. Uma mudança recente que não pôs fim ao fabrico de quadros de ardósia, de maior ou menor dimensão.

Em Valongo uma empresa familiar continua a construir os quadros de ardósia. Por ano são perto de um milhão de quadros produzidos, todos com destino ao estrangeiro. França, Itália, Alemanha Suíça, Reino Unido, Holanda, Estados Unidos da América e Canadá são alguns dos países que recebem este produto nacional «100% natural», sublinha Joaquim Tavares, filho do fundador da empresa Manuel Carvalho da Silva, Lda.

Os quadros, além de naturais porque a ardósia e a madeira utilizadas são matérias-primas não transformadas, são integralmente produto nacional. Joaquim Tavares explica que «a madeira de pinho chega de Celorico de Basto e a ardósia de Valongo».

Constituída em 1975, a empresa de Valongo emprega 14 pessoas, mas admite que poderiam ser muitas mais se, em Portugal, não tivesse caído em desuso o quadro de ardósia. «Um aumento de produção representava, sem dúvida, aumento do número de funcionários», afirma Joaquim.

A ardósia, também designada por lousa, é uma rocha metamórfica de composição fina e homogénea, composta por argila ou cinzas vulcânicas que foram sendo formadas, dispondo-se em camadas. Esta rocha, abundante no concelho de Valongo, chega à fábrica Manuel Carvalho da Silva, Lda em «blocos de grandes dimensões que são cortados em blocos mais pequenos de acordo com a dimensão da ardósia pretendida».

O nosso interlocutor pormenoriza ainda que, após o corte, «segue-se o processo de lascagem dos blocos em lâminas de aproximadamente 5 mm. Seguidamente entra numa linha de desbaste e polimento, onde a lousa em bruto de 5 mm sai com uma espessura de 2 mm, já polida das duas faces».

A madeira que emoldura a ardósia chega em tábuas e na fábrica é serrada em ripas. «Estas ripas entram numa máquina onde é feita a moldura final. Depois de cortadas nas medidas pretendidas, estas são encaixadas na lousa e coladas.
Depois de secarem passam por uma máquina, onde são lixadas para o acabamento final da madeira», adianta Joaquim Tavares.


Nova vida para ardósia
 
A rocha que serve de auxílio a professores de todo o mundo começa a ganhar novas aplicações. A empresa de Manuel Carvalho da Silva, que era empregado de uma fábrica de lousas e se estabeleceu por conta própria na década de 70 do século XX, está a preparar uma colecção de peças para decoração e utilização na cozinha, tais como marcadores para pratos, bandejas para petiscos, porta guardanapos, velas e outras ideias.

Escrever com giz em peças de louça foi uma ideia que também ocorreu a Sandra Correia há um ano. A designer recorre a uma tinta especial para «imprimir» em porcelana o imaginário da ardósia. Pinta bules, pratos, canecas, jarros de porcelana e vidro.

Começou por oferecer os artigos que fazia a familiares e amigos. Os presentes foram tão bem acolhidos que Sandra, de 26 anos, decidiu criar a marca Chalk Loves You (que se pode traduzir por o Giz Gosta de Ti). «Adapto objectos existentes e incorporo uma camada de ardósia não a pedra em si, mas uma tinta especial que tem o mesmo efeito», explica a jovem empreendedora.

Além da porcelana, Sandra pinta também artigos de madeira e prepara-se para começar a usar a rocha. Os artigos podem ser encontrados em algumas lojas e também ser encomendados através da Internet. No futuro, «gostava de alargar o leque de artigos e de conseguir produzir em grandes quantidades», conclui Sandra Correia.