quinta-feira, março 14, 2019

O Rei Humberto I de Itália nasceu há 175 anos

Humberto Rainiero Carlos Emanuel João Maria Fernando Eugénio de Saboia, em italiano: Umberto Rainerio Carlo Emanuele Giovanni Maria Ferdinando Eugenio di Savoia (Turim, 14 de março de 1844 - Monza, 29 de julho de 1900), cognominado "o Rei Bom", foi o segundo rei da Itália.


Família
Umberto era o segundo filho (primeiro varão) do rei Vítor Emanuel II e da arquiduquesa Maria Teresa de Áustria-Toscana. Os seus avós paternos foram o rei Carlos Alberto da Sardenha e Maria Cristina da Saxônia; e seus avós maternos foram Fernando III, Grão-duque da Toscana e Luísa das Duas Sicílias. Entre seus irmãos estavam o rei Amadeu I de Espanha e D.ª Maria Pia, rainha-consorte de Portugal.

Primeiros anos
Desde a infância, Umberto teve uma formação essencialmente militar, tendo como tutores Massimo D'Azeglio, Pasquale Stanislao Mancini e o general Giuseppe Rossi, que formou o caráter e as ideias que sustentou durante seu reinado.
Iniciou a carreira militar propriamente dita em 1858, com a patente de capitão. Participou da Segunda Guerra de Independência Italiana - distinguindo-se na Batalha de Solferino, em 1859 - e da Terceira Guerra de Independência Italiana - onde, como comandante da XVI Divisão, teve importante atuação no conflito de Villafranca di Verona, em 24 de junho de 1866, na sequência da Derrota de Custoza.
Devido à revolta causada pelos Saboia em uma série de outras casas reais (as italianas e outras relacionadas a elas, como os Bourbon de Espanha e França) em 1859-1860, apenas uma pequena parcela da realeza estava disposta a estabelecer relações com a família reinante do recém criado Reino da Itália, o que tornou a procura por uma noiva real para os filhos de Vítor Emanuel II uma tarefa bastante difícil. O conflito da família com a Igreja Católica após a anexação dos Estados Pontifícios dificultou ainda mais as negociações de casamento com pretendentes católicas.
Inicialmente, acertou-se o casamento de Umberto com a arquiduquesa Matilde de Áustria-Teschen, descendente de um ramo colateral da Casa de Habsburgo. No entanto, a arquiduquesa morreu aos dezoito anos de idade, vítima de um trágico acidente. O príncipe-herdeiro acabou casando-se com a princesa Margarida de Saboia, sua prima em primeiro grau, em 21 de abril de 1868. Margarida foi uma das raras princesas, entre todas as casas reais da Europa, com disponibilidade para contrair matrimónio com um membro da desprezada família Saboia (da qual ela também fazia parte). O casal teve um único filho, o futuro Vítor Emanuel III.

Reinado
Ascendeu ao trono com a morte do pai, em 9 de janeiro de 1878. O novo rei adotou o título de "Umberto I da Itália", em vez de "Umberto IV" (de Saboia), e permitiu que os restos mortais de Vítor Emanuel II fossem sepultados no Panteão de Roma, em vez da cripta real da Basílica de Superga, reforçando a ideia de uma Itália unificada.

Primeira tentativa de assassinato
Durante uma viagem a Nápoles, a 17 de novembro de 1878, Umberto desfilava num carro aberto acompanhado do primeiro-ministro Benedetto Cairoli quando foi atacado pelo anarquista Giovanni Passannante. O rei repeliu o golpe com seu sabre, mas Cairoli, ao tentar defendê-lo, foi gravemente ferido na coxa. O pretenso assassino foi condenado à morte, embora a lei só permitisse tal condenação em caso de morte do rei. Umberto comutou a sentença em trabalhos forçados perpétuos, que Passanante cumpriu numa cela de apenas 1,4 metros de altura, sem saneamento e com 18 quilos de correntes em seu corpo. O anarquista viria a morrer em uma instituição psiquiátrica .

Política externa
Na política externa, Umberto I aprovou a Tríplice Aliança com a Áustria-Hungria e a Alemanha, visitando Viena e Berlim diversas vezes. Muitos na Itália, no entanto, desaprovavam e viam com hostilidade uma aliança com seus antigos inimigos austríacos, que ainda ocupavam áreas reivindicadas pela Itália.
Umberto também foi favorável à política de expansão colonial iniciada em 1885 com a ocupação de Massaua, na Eritreia, e da Somália. Umberto I aspirava um vasto império no nordeste da África, mas sofreu uma desastrosa derrota na Batalha de Adwa, na Etiópia, em 1 de março de 1896.
No verão de 1900 as forças italianas, que compunham a Aliança das Oito Nações, participaram da Revolta dos Boxers, na China imperial. Através do Protocolo de Boxer, assinado após a morte de Umberto, o Reino da Itália recebeu a concessão do território de Tianjin, no nordeste da China.
Nas relações com a Santa Sé, Umberto declarou, em um telegrama de 1886, Roma "intocável" e afirmou a permanência da posse italiana da "Cidade Eterna".

Desordem
O reinado de Umberto I corresponde a uma época de revolução social, embora fosse afirmado mais tarde que tenha sido uma tranquila belle époque. Tensões sociais decorrentes da ocupação relativamente recente do Reino das Duas Sicílias, a disseminação de ideias socialistas, a hostilidade do povo em relação aos planos colonialistas de vários gabinetes - especialmente o de Francesco Crispi - e a repressão às liberdades civis. Entre os opositores estava o jovem Benito Mussolini, então membro do partido socialista. Em 22 de abril de 1897, Umberto I foi atacado novamente, por Pietro Acciarito, um ferreiro desempregado, que tentou esfaqueá-lo perto de Roma.

Massacre de Bava Beccaris
O rei foi duramente criticado pela oposição socialista e anarquista-republicana por ter concedido a grã-cruz da Ordem Militar de Saboia ao general Fiorenzo Bava Beccaris que, em 7 de maio de 1898, ordenou o uso de canhões contra a multidão que participava do chamado "Motim de Milão" (também conhecido como o protesto do estômago), uma manifestação popular provocada pela grande alta no custo dos cereais. Sob as ordens de Bava Beccaris, o exército protagonizou um massacre com pelo menos uma centena de mortos e mais de 500 feridos, segundo estimativas da polícia da época, embora alguns historiadores considerem que essas estimativas tenham sido subestimadas.
Após os eventos em Milão, o governo do general Luigi Pelloux tomou um rumo autoritário, preparando-se para dissolver as organizações socialistas e radicais católicas e limitar a liberdade de imprensa e de reunião. Esta atitude, no entanto, foi vetada pelo parlamento, onde os socialistas conseguiram forçar Pelloux a dissolver o governo e convocar novas eleições, com avanço acentuado da esquerda.
Pelloux renunciou e Umberto I, em respeito à legislação vigente, nomeou Giuseppe Saracco como presidente do conselho de ministros, que deu início a uma política de reconciliação nacional. A concessão da condecoração ao general Bava Beccaris foi a causa do último e fatal ataque ao monarca, por Gaetano Bresci.

O atentado fatal
Em 29 de julho de 1900, Umberto I foi convidado a Monza para participar de uma cerimónia de entrega de prémios organizada pela Società Ginnastica Monzese Forti e Liberi, evento que contou com equipes de atletas de Trento e Trieste. Embora ele costumasse usar uma cota de malha de proteção sob a camisa, decidiu não usá-la naquele dia, por causa do calor, atitude que contrariava as instruções de seus agentes de segurança. Entre os populares que o saudavam também se encontrava Gaetano Bresci, com um revólver no bolso.
O rei permaneceu no local por cerca de uma hora e, segundo testemunhas, estava de bom humor: "Entre esses jovens inteligentes me sinto rejuvenescido.", teria declarado. Ele decidiu retornar ao palácio da Villa Reale di Monza por volta de 22.30 horas, caminhando entre a multidão e a banda de música, que iniciava a "Marcha Real".
Aproveitando-se da confusão, Bresci postou-se à frente do rei e disparou três tiros. Umberto, baleado no ombro, pulmão e coração, dirigiu-se ao general Ponzio Vaglia: "Vamos, acho que estou ferido!".
Logo após, a polícia prendeu Brescia (que não ofereceu nenhuma resistência), livrando-o do linchamento pela multidão. Enquanto isso, a carruagem chegava à Villa Reale onde a rainha, já avisada do ocorrido gritava: "Façam algo, salvem o rei!" Mas nada mais podia ser feito, o rei já estava morto.
O seu corpo foi sepultado Panteão de Roma, em 13 de agosto. Bresci foi julgado e condenado à morte por regicídio em 29 de agosto, mas a condenação foi comutada em prisão perpétua pelo novo rei, Vítor Emanuel III. Bresci morreu em 22 de maio de 1901.

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