sexta-feira, janeiro 11, 2019

O poeta e pedagogo João de Deus morreu há 123 anos

João de Deus de Nogueira Ramos (São Bartolomeu de Messines, 8 de março de 1830 - Lisboa, 11 de janeiro de 1896), mais conhecido por João de Deus, foi um eminente poeta lírico, considerado à época o primeiro do seu tempo, e o proponente de um método de ensino da leitura, assente numa Cartilha Maternal por ele escrita, que teve grande aceitação popular, sendo ainda utilizado. Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens. Foi considerado o poeta do amor e encontra-se sepultado no Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.


LÁGRIMA CELESTE


Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar!

Ah! se tu não fosses
lágrima do céu,
lágrimas tão doces
não chorava eu.

Se eu nunca te visse,
bonina do vale,
talvez não sentisse
nunca amor igual.

Pomba debandada,
que é dos filhos teus?
Luz da madrugada,
luz dos olhos meus!

Meu suspiro eterno,
meu eterno amor,
de um olhar mais terno
que o abrir da flor.

Quando o néctar chora
que se lhe introduz
ao romper da aurora
e ao raiar da luz!

Esta voz te enleve,
este adeus lá soe,
o Senhor to leve
e Deus te abençoe.

O Senhor te diga
se te adoro ou não,
minha doce amiga
do meu coração!

Se de ti me esqueço
ou já me esqueci,
ou se mais lhe peço
do que ver-te a ti!

A ti, que amo tanto
como a flor a luz,
como a ave o canto,
e o Cordeiro a Cruz;

A campa o cipreste,
a rola o seu par,
lágrima celeste,
pérola do mar.

Lágrima celeste,
pérola do mar,
tu que me fizeste
para me encantar?


in
Campo de Flores (1893) - João de Deus

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