quinta-feira, julho 26, 2018

Stanley Kubrick nasceu há noventa anos

 
 Auto retrato na década de 50 para a revista Look
 
Stanley Kubrick (Nova Iorque, 26 de julho de 1928 - Hertfordshire, 7 de março de 1999) foi um cineasta, argumentista, produtor de cinema e fotógrafo americano. Considerado um dos mais importantes cineastas de todos os tempos, foi autor de grandes clássicos do cinema, como Spartacus (1960), Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (Dr. Estranho Amor ou apenas Dr. Strangelove), (1963), 2001 - Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), Shining (1980), entre outros.
Em sua infância, o garoto do Bronx não era o que se podia chamar de "aluno exemplar". Raramente fazia os trbalhos de casa e as suas notas não eram das melhores. Mas apesar disso, tinha reconhecimento do pai da sua mente criativa. Foi este quem o encorajou a aprender Xadrez (tornou-se um especialista neste desporto) e deu-lhe a sua primeira máquina fotográfica. Ainda na adolescência, visando a carreira como fotógrafo, conseguiu emprego na conceituada revista Look, mas logo Kubrick descobriu que o seu futuro estava ligado a outro tipo de câmara.
Estreou como cineasta de curta-metragens aos 22 anos. Aos 25, obteve uma grande ajuda financeira do pai, que penhorou a casa para a produção de Fear and Desire, de 1953, a sua primeiro longa-metragem. Considerou o trabalho amador e, mesmo com algumas boas críticas, logo tratou de retirá-lo de circulação. Até hoje o filme permanece fora de catálogo, tendo sido exibido poucas vezes em festivais ou distribuído ilegalmente. Logo após Kubrick realizaria outro longa, Killer's Kiss (no Brasil A Morte Passou Por Perto), de 1955, outro filme pouco divulgado e de difícil acesso. Mas é a partir de The Killing (no Brasil O Grande Golpe e em Portugal Um Roubo no Hipódromo), de 1956, que a sua carreira começa a melhorar. A trama sobre um plano de assalto ganhou a atenção de alguns produtores. Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela Paths of Glory. O filme homónimo foi estrelado pelo astro Kirk Douglas, que ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antiguerra mais poderosos que o mundo do cinema já viu, focado não em heróis, mas sim em covardes. Apesar das excelentes críticas, Paths of Glory (no Brasil Glória Feita de Sangue e em Portugal Horizontes de Glória), de 1957, foi proibido em alguns países, incluindo a França.
Kirk Douglas gostou de trabalhar com Kubrick. Foi ele quem o chamou para dirigir o épico Spartacus (1960) após a tensa demissão do veterano diretor Anthony Mann. Mann já havia filmado boa parte da produção quando Kubrick, com apenas 29 anos, assumiu o seu lugar. A boa relação com Douglas viria por água abaixo quando as suas diferenças criativas se confrontaram. Kubrick perdeu a batalha e viu-se obrigado a filmar sem poder colocar algumas de suas ideias em prática. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que se mudou para a Inglaterra, em 1962. No mesmo ano começa as filmagens de Lolita (1962), clássico da literatura escrita por Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov dá grande visibilidade ao filme, que mesmo imerso em polémicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas) torna-se outro grande sucesso de crítica. Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964) (Doutor Fantástico no Brasil e Doutor Estranhoamor em Portugal). Tendo como o tema a ameaça nuclear, o filme é uma comédia de humor negro com atuações e roteiro primorosos. Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês Peter Sellers, que se desdobra em três papéis, incluindo o de presidente dos Estados Unidos e George C. Scott (que alguns anos mais tarde se destacaria de vez em Patton, Rebelde ou Herói?). Entre os vários momentos clássicos está o final, com direito a um major cowboy montado sobre uma bomba atómica no ar. Esse trabalho rendeu a Kubrick a sua primeira nomeação para o Óscar de melhor diretor.
Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de 2001: A Space Odyssey (2001: Odisseia no Espaço), de 1968, para muitos o melhor filme de ficção científica já filmado. Foi produzido ao mesmo tempo em que o livro homónimo de Arthur C. Clarke estava a ser escrito. Clarke, inclusive, deu assistência na criação do roteiro. 2001 teve uma recepção fria da crítica, mas obteve sucesso junto do público. Até hoje possui como força maior as músicas de Richard Strauss, Assim falou Zaratustra e Johann Strauss, Danúbio Azul. Os efeitos especiais, inovadores para a época, garantiram ao filme um Óscar da categoria.
Novamente indicado para melhor diretor, Kubrick vê o seu prémio escapar. Logo após, chateado com o cancelamento do filme sobre Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação. Dessa vez o livro é A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de 1971, de Anthony Burgess, focado na violência humana e, principalmente, na da juventude. Causou grande polémica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar à barbárie. Na história, quatro jovens de classe trabalhadoras passam as noites cometendo as maiores atrocidades: lutar, roubar, violar… são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex, (Malcolm McDowell) toma um rumo diferente quando o mesmo vai para a cadeia. Disparado o trabalho mais controverso do diretor, que lhe rendeu outra indicação para o prémio da Academia e outra derrota.
Nos anos seguintes três filmes totalmente diferentes: um longuíssimo filme de época, um terror de gelar a espinha e a sua visão da Guerra do Vietname. O primeiro é Barry Lyndon (1975). Linda obra saída de uma novela de William Makepeace Thackeray. Apesar de ser pouco conhecido, o filme é considerado por muito dos fãs de Kubrick, entre eles Martin Scorsese, como o seu melhor trabalho, pois nele é perfeitamente visível o seu perfeccionismo, característica marcante em sua carreira. Barry Lyndon, interpretado magistralmente por Ryan O'Neal, é uma espécie de "talentosa fraude" que inevitavelmente é expulso de onde quer que se meta. A fotografia do filme, dirigida por John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - e vencedora do Óscar, é outro momento inesquecível. Kubrick usou lentes criadas pela NASA para poder filmar alguns interiores, com o requinte do detalhe de certas cenas serem iluminados apenas com velas. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, mas fez relativo sucesso na Europa. Levou quatro estatuetas douradas, mas de novo o admirável trabalho de Stanley como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Um novo sucesso mundial ele voltaria a ter com o clássico The Shining (1980), adaptação da obra de Stephen King. A história de uma família que passa o inverno num hotel nas montanhas até hoje faz sucesso onde quer que seja exibida. Quase no final dos anos 80, Kubrick resurgiria dando ênfase a guerra, dessa vez a do Vietname. Saída do livro de Gustav Hasford, Full Metal Jacket (Nascido Para Matar), de 1987, quase que uma versão "kubrickiana" de Apocalypse Now.  O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Kubrick disse que ficou frustrado com o fato de que antes da estréia do filme dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados com sucesso: The Killing Fields (no Brasil Os Gritos do Silêncio e em Portugal Terra sangrenta), de 1984, e Platoon, de 1986. Ainda como destaque da produção está o imenso set erguido em Londres para a batalha final.
Do seu último longa-metragem até Eyes Wide Shut (De Olhos Bem Fechados), de 1999, passou-se um longo período sem nada assinado por Stanley. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um dos Estados Unidos, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte. Tom Cruise e Nicole Kidman interpretam um casal em crise e foi adaptada de romance escrito por Arthur Schnitzler, chamado Traumnovelle. Dois anos foi o período de filmagem, tempo que o perfeccionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas não o necessário para agradar à crítica e público. Kubrick faleceu enquanto dormia, devido a um ataque cardíaco, no dia 7 de março de 1999, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve. O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi AI:Inteligência Artificial, de Steven Spielberg. Encontra-se sepultado em Childwickbury Manor, Hertfordshire na Inglaterra.

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