segunda-feira, dezembro 08, 2014

Há 97 anos o Presidente-Rei Sidónio Pais fez cair a república velha

Sidónio Pais, major e professor, liderou uma revolta em Lisboa, a 5 de dezembro de 1917, apoiada por alguns populares e elementos da Escola de Guerra, que se afirmava contra a guerra e contra a demagogia da ala democrática. Esta revolta surgiu numa altura em que a maior parte do exército se encontrava no exterior a lutar na Flandres e em África, no âmbito da Primeira Guerra Mundial, e o chefe do governo estava também ausente.
Este novo líder, saído de uma revolução apoiada pelos grandes burgueses e pelo Partido Unionista, era uma figura ainda com pouca projeção, embora tivesse sido ministro nos governos de 1911 e 1912. Apesar disso, veio a alterar radicalmente a estrutura política do país. O ministério, presidido interinamente por Nórton de Matos, demitiu-se, enquanto Bernardino Machado foi convidado a deixar o país e Afonso Costa foi preso ao entrar em Portugal.
Foi então instaurada uma ditadura militar, que reclamou para si todos os poderes e introduziu um sistema presidencialista do tipo americano, que elegeu Sidónio Pais Presidente da República nas eleições diretas (não admitidas pela Constituição republicana de 1911) de abril de 1918.
A "Nova República", como era chamada, afastou de si o Partido Unionista, que de início apoiara a revolução, mas que perante a atitude ditatorial do seu líder preferiu passar a integrar as fileiras da oposição. Nas eleições legislativas agendadas para o mesmo mês, as maiores forças políticas da República deposta recusaram-se a participar no ato eleitoral, à exceção dos monárquicos, que tiveram alguma representatividade em certos círculos.
O regime Sidonista trouxe um clima de terror e de instabilidade, embora Sidónio Pais começasse por suscitar grande simpatia da parte das massas populares, que o elevaram ao estatuto de "herói popular" e nele encontraram um chefe ou um verdadeiro líder. Este cultivava a sua figura e encenava grandes receções, cavalgadas pela rua (num cavalo branco, principalmente em manhãs de nevoeiro, em pose sebastiânica) e paradas militares, contrastantes com a atuação da República burguesa maçónica que ocupara o poder anteriormente.
Esta "Nova República" não apresentava um programa político bem definido, que trouxesse alternativas ao governo anterior; tinha, no entanto, de tentar responder às promessas feitas pela propaganda republicana. Sidónio Pais não tinha quadros superiores de qualidade que lhe permitissem implementar as reformas exigidas. Como o Partido Unionista o tinha abandonado, só poderia recorrer ao grupo de Machado Santos e aos jovens cadetes da Escola de Guerra, mas nem uns nem outros pareciam preencher os requisitos. A sua base de apoio foi encontrada na ala de extrema direita, um agrupamento que incluía alguns adeptos da monarquia, representantes da alta burguesia e elementos do clero, um fator que o distanciou ainda mais dos republicanos.
Nos primeiros tempos da ditadura vivia-se num clima de grande instabilidade política, ou seja, uma das razões do relativo apoio popular que tinha - acabar com a anarquia dos governos republicanos - desvanecia-se. Havia constantes mudanças no governo, os ecos da guerra eram cada vez mais fortes e o moral das tropas estava muito abalado, numa altura em que alguns soldados a combater na Flandres regressavam a Portugal, muitos estropiados ou mutilados.
Entretanto, na capital uma parte do proletariado que confiara em Sidónio Pais sentia-se profundamente desiludida com a sua política social, agravando um ambiente de terror e censura gerado pela ditadura. Face a esta situação pouco confortável para o governo de Sidónio Pais, a oposição liberal refortalecia-se e lançava-se numa onda de revoltas e conspirações para retomar o poder.
A "Nova República" falia, ainda que tivesse algum apoio entre certos intelectuais e tenha despertado uma aura "messiânica" no País. E expira mesmo, em dezembro de 1918, com o assassinato de Sidónio Pais, um acontecimento duplamente funesto, pois empurrou o país para uma grave crise da qual a República (que de seguida regressa ao governo, nos moldes anteriores a 1917) nunca mais recuperará.

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