sexta-feira, junho 13, 2014

António Variações morreu há 30 anos...

António Joaquim Rodrigues Ribeiro, conhecido por António Variações (Lugar de Pilar, Amares, 3 de dezembro de 1944 - Lisboa, 13 de junho de 1984), foi um cantor e compositor português do início dos anos 1980. A sua curta discografia continuou a influenciar a música portuguesa nas décadas posteriores ao seu precoce desaparecimento, com 39 anos.

António Variações nasceu em Braga, radicando-se nos primeiros anos da sua vida no Lugar de Pilar, uma pequena aldeia da freguesia de Fiscal, no município de Amares, distrito de Braga. Filho dos camponeses Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro, Tonito (como a mãe lhe chamava) tinha onze irmãos, embora dois deles tenham falecido muito cedo. A sua infância foi dividida entre os estudos e o trabalho no campo, para ajudar os pais. Jaime tocava cavaquinho e acordeão e foi a primeira inspiração de Variações, que desde cedo revelou a sua paixão pela música nas romarias e no folclore locais.
Aos onze anos, teve o seu primeiro emprego, em Caldelas, e, um ano depois, partiu para Lisboa. Aí, trabalhou como aprendiz de escritório, barbeiro, balconista e caixeiro. Seguiu-se o serviço militar em Angola e a aventura pelo estrangeiro: Londres em 1975 e Amsterdão meses depois, onde descobriu um novo mundo, querendo trazer para Portugal uma nova maneira de viver. Foi nesta última cidade que aprendeu profissão de barbeiro que, mais tarde, exerceu em Lisboa, quando voltou.
Com a ajuda do amigo e colega Fernando Ataíde, Variações foi admitido no Ayer, o primeiro cabeleireiro unissexo a funcionar em Portugal. Ataíde era igualmente seu amante e Variações assumiu dessa forma a sua orientação sexual. Depois do Ayer, passou ainda por um salão no Centro Comercial Alvalade e só mais tarde abriu uma barbearia na baixa lisboeta.
Entretanto, deu igualmente início aos espectáculos com o grupo Variações, atraindo rapidamente as atenções. Por um lado, o seu visual excêntrico não passava despercebido e, por outro, o seu estilo musical combinava vários géneros, como o rock, o pop, os blues ou o fado. Em 1978, apresentou-se à editora Valentim de Carvalho e assinou contrato.
A discoteca Trumps ou o Rock Rendez-Vous foram os locais onde Variações se apresentou ao público. Em 1981, sem ter até aí editado qualquer música, participou no programa de televisão de Júlio Isidro, O Passeio dos Alegres. A sua música e o seu estilo próprio e inconfundível fizeram com que depressa alcançasse uma fama razoável.
Editou o primeiro single com os temas Povo que Lavas no Rio de Amália Rodrigues (a sua maior referência), e Estou Além. De seguida, gravou o seu primeiro LP, Anjo da Guarda com dez faixas, todas de sua autoria, onde se destacaram os êxitos É p´ra Amanhã e O Corpo É que Paga.
Em 1984 lançou o seu segundo trabalho, intitulado Dar e Receber. Era fevereiro e, dois meses depois, a 22 de abril, Variações daria um concerto, na aldeia de Viatodos, concelho de Barcelos, durante as festas da "Isabelinha". Depois disso, aparece pela última vez em público no programa televisivo "A Festa Continua" de Júlio Isidro. Será a única interpretação no pequeno ecrã das faixas do novo disco, usando o mesmo pijama com ursinhos e coelhinhos que usou na sua primeira aparição televisiva. António Variações cantou na Queima das Fitas de Coimbra de 1984, no dia 17 de maio, na Noite da Psicologia, já gravemente doente, sendo que os seus amigos e familiares deixaram de receber notícias do cantor, que ficou hospedado por alguns dias em casa de um amigo, até ter sido levado para o Hospital Pulido Valente, no dia 18 de maio, devido a um problema brônquico-asmático.
Quando a Canção de Engate invadiu as rádios, já António Variações se encontrava internado no hospital. Transferido para a Clínica da Cruz Vermelha, morreu a 13 de junho, vítima de uma broncopneumonia, provavelmente causada pela SIDA. O actor holandês Jelle Balder, com quem também manteve um relacionamento amoroso, foi o seu companheiro até à morte. Especula-se que terá sido a primeira figura pública portuguesa a morrer vítima de SIDA.
Vinte anos após a sua morte, em dezembro de 2004, foi lançado um álbum em sua homenagem, com canções da sua autoria que nunca tinham sido editadas; sete conhecidos músicos portugueses formaram a banda Humanos e gravaram 12 músicas seleccionadas de um conjunto de cassetes "perdidas" no património de Variações administrado pelo irmão, Jaime Ribeiro.
Em entrevista, António Variações explicou o nome escolhido: "Variações é uma palavra que sugere elasticidade, liberdade. E é exactamente isso que eu sou e que faço no campo da música. Aquilo que canto é heterogéneo. Não quero enveredar por um estilo. Não sou limitado. Tenho a preocupação de fazer coisas de vários estilos."


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