segunda-feira, dezembro 31, 2012

A URSS acabou há 21 anos

(imagem daqui)

A partir do final dos anos 1970 começam a ficar claras as limitações do modelo soviético de economia planificada. A Crise do Petróleo dos anos 70 elevou a economia soviética, podendo o povo, em pleno regime socialista, consumir mais, muitas famílias puderam comprar novas tecnologias a mais, automóveis, fornos microondas e aparelhos eletrónicos, não eram novidade para muitos, mas mais de um automóvel e diversos aparelhos eletrónicos eram um sonho que dependiam de muita economia, e que agora tornava-se realidade para muitas famílias, dando um conforto material muito maior, sem ferir os princípios socialistas. O bem estar foi tanto, que as autoridades soviéticas chegavam a dizer que os países capitalistas estavam em crise.
Por este profundo desenvolvimento económico, político e militar, a economia soviética acabou estagnando no final dos anos 70, mas tal estagnação nem sequer chegava a ser classificada como crise, e nem previa que mais tarde, esta pequena estagnação se transformaria em uma crise profunda a ponto de desestruturar a economia soviética. Como a estagnação dos anos 1970 se transformou em uma crise profunda nos anos 80 a ponto de desestruturar a economia soviética é objeto de discussões até os dias de hoje. A comparação com a China que realizou uma transição mais bem sucedida para o capitalismo tem auxiliado a avaliar melhor o peso dos fatores estruturais e conjunturais nesta crise.
Em termos estruturais a economia planificada talvez tenha sido a principal responsável pela crise, pois exigia que tudo que fosse produzido em todos os setores da economia estivesse planeado nos planos quinquenais. Na prática isto criava distorções, como excesso de determinados produtos (indústrias de base e de bens de capital) e escassez de outros (bens de consumo). Quando a produção de determinado produto era insuficiente para atender o consumo, ao invés dos preços subirem até inibir a demanda (como costuma ocorrer em uma economia de mercado) os produtos simplesmente se esgotavam e desapareciam da lojas e prateleiras dos supermercados.
Os custos militares da Guerra Fria já estavam insustentáveis para a URSS no fim dos anos 1970. O país mantinha forças armadas de quase dois milhões de homens, sendo 1 milhão mobilizados na Europa Oriental. Quando a China se aproxima dos Estados Unidos nos anos 1970 e passa a ameaçar a URSS a situação piora. A China estacionou quase 1 milhão de homens nas fronteiras com a União Soviética, e para contrabalançar, esta teve que estacionar outro 1 milhão de homens na fronteira com a China. Os custos desta mobilização permanente começavam a se mostrar insustentáveis no início dos anos 1980 com o envolvimento soviético no conflito do Afeganistão.
Segundo Angelo Segrillo, o fator militar não foi o fator principal da queda da URSS, pois o gasto soviético nesta área não cresceu significativamente, quando comparado com dados anteriores. A queda deveu-se principalmente a mudança do paradigma mundial de produção industrial, iniciado no início da década de 1970, passando do modelo Fordista, onde a produção era centralizada e com pouca flexibilidade, portanto mais adaptada ao modelo soviético, para o modelo Toyotista, descentralizado e flexível, incompatíveis com o modelo soviético de produção.
Mikhail Gorbatchov foi o último dirigente soviético. Assumiu o cargo de secretário-geral da PCUS (Partido Comunista da União Soviética) em março de 1985, substituindo Konstantin Tchernenko, que faleceu naquele ano. O bom relacionamento com os membros do partido e a habilidade política foram fatores que credenciaram Gorbatchov a assumir o posto mais importante na hierarquia administrativa soviética. Defensor de ideias modernizadoras, instituiu dois projetos inovadores: a perestroika (reconstrução económica) e a glasnost (transparência política). A tentativa de modernização acelerada da perestroika e da glasnost viria como proposta "salvadora" de Gorbatchov, mas não conseguiria mais reverter a crise.
O ano de 1989 viu as primeiras eleições livres no mundo socialista, com vários candidatos e com os media livre para discutir. Ainda que muitos partidos comunistas tivessem tentado impedir as mudanças, a perestroika e a glasnost de Gorbachev tiveram grande efeito positivo na sociedade. Assim, os regimes comunistas, país após país, começaram a cair. A Polónia e a Hungria negociaram eleições livres (com destaque para a vitória do partido Solidariedade na Polónia), e a Checoslováquia, a Bulgária, a Roménia e a Alemanha Oriental tiveram revoltas em massa, que pediam o fim do regime socialista.
E na noite de 9 de novembro de 1989 o Muro de Berlim começou a ser derrubado depois de 28 anos de existência. Antes da sua queda, houve grandes manifestações em que, entre outras coisas, se pedia a liberdade de viajar. Além disto, houve um enorme fluxo de refugiados ao Ocidente, pelas embaixadas da RFA, principalmente em Praga e Varsóvia, e pela fronteira recém-aberta entre a Hungria e a Áustria, perto do lago de Neusiedl.
Em 1990, com a reunificação alemã, a União Soviética cai para o posto de quarto maior PIB mundial. Este quadro piora rapidamente com a nova crise da transição para o capitalismo nos anos 1990, quando a Rússia torna-se o 15º PIB mundial. Entre 1987 e 1988 a URSS abdica de continuar a corrida armamentista com os Estados Unidos, assinando uma nova série de acordos de limitação de armas estratégicas e convencionais. A URSS inicia a retirada do Afeganistão e começa a reduzir a presença militar na Europa Oriental. O governo soviético pressiona aliados pela negociação de paz em conflitos como a Guerra Civil Angolana, onde os termos para o fim do conflito são estabelecidos em acordo com os Estados Unidos, Angola, Cuba e África do Sul. Esta nova postura também significou a redução de todas as formas de apoio (político, financeiro e comercial) que esta potência dava a regimes aliados em todo o mundo.
No plano interno, Gorbatchov enfrentou grandes resistências da oligarquia e dos burocratas partidários (os apparatchiks). A linha dura do partido via a postura de Gorbatchov no plano internacional como covarde e acusava-o de trair a URSS e o socialismo. Estes grupos eram contra a retirada do Afeganistão e defendiam que a URSS deveria intervir nos países da Europa Oriental que estavam passando por processos de democratização e abandonavam o socialismo, como a Polónia. Em 1991, setores mais belicistas do governo soviético defenderam que a URSS deveria ter apoiado o Iraque na Guerra do Golfo contra a coligação de países liderada pelos Estados Unidos e passaram a criticar o governo Gorbatchov como fraco.
Na metade do ano de 1990 e início de 1991, a situação política e económica na União Soviética se agravou e para tentar reverter essa crise o presidente Mikhail Gorbatchov, pensou em primeiro resolver o problema político e étnico soviético para depois reformar a economia. O novo Tratado da União dos Estados Soberanos foi um projeto de tratado que teria substituído o de 1922 (Tratado da Criação da URSS) e, portanto, teria substituído a União Soviética por uma nova entidade chamada União de Estados Soberanos, uma tentativa de Mikhail Gorbatchov para recuperar e reformar o Estado soviético.



Colapso da União Soviética
Em 19 de agosto de 1991, um dia antes de Gorbatchov e um grupo de dirigentes das Repúblicas assinarem o novo Tratado da União, um grupo chamado Comité Estatal para o Estado de Emergência tentou tomar o poder em Moscovo. Anunciou-se que Gorbatchov estava doente e tinha sido afastado de seu posto como presidente. Gorbatchov estava, então, em férias na Crimeia quando a tomada do poder foi desencadeada e lá permaneceu durante todo o seu curso. O vice-presidente da União Soviética, Gennady Yanaiev, foi nomeado presidente interino. A comissão de 8 membros, incluindo o chefe da KGB Vladimir Krioutchkov e o Ministro das Relações Exteriores, Boris Pougo, o ministro da Defesa, Dmitri Iazov, todos os que concordaram em trabalhar para apear Gorbachev. Em 21 de agosto de 1991, a grande maioria das tropas que são enviadas a Moscovo se coloca-se abertamente ao lado dos manifestantes ou são desertores. O golpe falhou e Gorbatchov, que tinha sido preso na sua dacha na Crimeia, regressou a Moscovo.
Após o seu regresso ao poder, Gorbatchov prometeu punir os conservadores do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Demitiu-se das suas funções como secretário-geral, mas continua a ser presidente da União Soviética. O fracasso do golpe de Estado apresentou uma série de colapsos das instituições da união. Boris Yeltsin assumiu o controle da empresa central de televisão e os ministérios e organismos económicos.
A derrota do golpe e o caos político e económico que se seguiu agravou o separatismo regional e acabou levando à fragmentação do país.
Em setembro as repúblicas bálticas (Estónia, Letónia e Lituânia) declaram a independência em relação a Moscovo. Em 1 de Dezembro, a Ucrânia proclamou sua independência por meio de um plebiscito que contou com o apoio de 90% da população. E entre outubro e dezembro onze (com as 3 repúblicas bálticas e a Ucrânia) das 15 repúblicas soviéticas declaram a sua independência. Em 21 de dezembro líderes da Federação Russa, Ucrânia e Bielorússia assinaram um documento onde era declarada extinta a União Soviética. E no seu lugar era criada a Comunidade dos Estados Independentes (CEI).
No dia de natal de 1991, em cerimónia transmitida por satélite para o mundo inteiro, Gorbatchov que estava há 6 anos no poder declara oficialmente o fim da URSS e renúncia à presidência do país e após isso, a bandeira com a foice e o martelo é retirada do Kremlin e a bandeira russa é colocada em seu lugar. A União Soviética foi dissolvida oficialmente a 31 de dezembro de 1991, após 69 anos de existência. A Federação Russa ficou conhecida como sua sucessora, pois ficou com mais da metade do antigo território soviético, além da maioria do seu parque industrial e militar.

Sem comentários: