terça-feira, janeiro 17, 2012

Poesia de Torga para terminar um bom dia

Plateia

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um que só fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.


in
Câmara Ardente (1962) - Miguel Torga

Sem comentários: