terça-feira, janeiro 03, 2012

Há 52 anos deu-se a célebre fuga de Peniche de Álvaro Cunhal

Álvaro Barreirinhas Cunhal (Coimbra, 10 de novembro de 1913Lisboa, 13 de junho de 2005) foi um político e escritor português, conhecido por ser um resistente ao Estado Novo, e ter dedicado a vida ao ideal comunista e ao seu partido, o Partido Comunista Português.

(...)
Devido aos seus ideais comunistas e à sua assumida e militante oposição ao Estado Novo, esteve preso em 1937, 1940 e 1949-1960, num total de 13 anos, 8 dos quais em completo isolamento sem nunca, incrivelmente, ter perdido a noção do tempo. Mesmo sob violenta tortura, nunca falou. Na prisão, como forma de passar o tempo, dedicou-se à pintura e à escrita. Uma das suas produções mais notáveis aquando da sua prisão, foi a tradução e ilustração da obra Rei Lear, de William Shakespeare. A 3 de janeiro de 1960, Cunhal, juntamente com outros camaradas, todos quadros destacados do PCP, protagonizaram a célebre "fuga de Peniche", possível graças a um planeamento muito rigoroso e a uma grande coordenação entre o exterior e o interior da prisão.



(imagem daqui)



A chamada Fuga de Peniche foi um episódio da história de Portugal, no contexto da oposição à ditadura salazarista, ocorrido na prisão de alta-segurança de Peniche a 3 de Janeiro de 1960.

Teve como atores os chamados "dez de Peniche", a saber:
A operação, cuidadosamente planeada, foi organizada internamente por uma comissão integrada por Álvaro Cunhal, Jaime Serra e Joaquim Gomes e, no exterior, por Pires Jorge e Dias Lourenço, com a ajuda de Octávio Pato, Rui Perdigão e Rogério Paulo.
Desse modo, na data aprazada, ao final da tarde, um automóvel parou em frente ao forte, com o porta-bagagens aberto. Esse era o sinal combinado para que, no interior da prisão se soubesse que, no exterior, estava tudo a postos para a fuga. O sinal foi transmitido pelo ator, já falecido, Rogério Paulo.
O carcereiro foi então neutralizado com o emprego de um produto anestésico e, com a ajuda de um sentinela – o guarda José Alves – que fazia parte do plano de fuga, os prisioneiros atravessaram, sem serem percebidos pelos demais sentinelas, o trecho mais exposto do percurso. Encontrando-se no piso superior, descem para o piso inferior com o recurso a uma árvore. Aqui correram para o pano exterior da muralha, tendo descido o mesmo com o auxílio de uma corda feita com lençóis até alcançarem o fosso exterior. Dele, tiveram ainda que saltar um muro para chegar à vila, onde já se encontravam à espera os automóveis que os haviam de transportar para as casas clandestinas onde deveriam passar a noite.
Cunhal passou a noite na casa de Pires Jorge, em São João do Estoril, onde ficou a viver clandestinamente durante algum tempo.

 Desenho a carvão de Álvaro Cunhal feito em Peniche

NOTA: o guarda José Alves apenas colaborou na operação porque, sendo de condição humilde, foi iludido com promessas financeiras que nunca foram cumpridas. Cometeu suicídio num jardim de Bucareste, Roménia, para onde fugiu, sentindo-se enganado por aqueles que ajudou a fugir, sozinho num país que não era o seu e onde nenhuma porta se lhe abriu. A sua viúva, após o 25 de Abril, contactou pessoalmente Álvaro Cunhal (então ministro de um dos governos provisórios) pedindo ajuda (pois vivia de graças à generosidade de amigos e familiares), de quem obteve a resposta de que "José Alves não era um comunista, não desempenhou um serviço ao partido, por isso não carece de qualquer ajuda."

ADENDA: Roma não pagava a traidores - o PCP não paga a traidores e às suas viúvas.

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