segunda-feira, março 02, 2009

Património espeleológico em perigo

Derrocada ameaça Gruta do Zambujal
ROBERTO DORES, Setúbal

Sesimbra. Associação alerta para estado de degradação

A Gruta do Zambujal, em Sesimbra, foi descoberta em 1978, aquando de uma explosão de uma pedreira, e viria a ser a primeira cavidade do género em Portugal a merecer a classificação de património natural de interesse nacional, mas nem esse estatuto impediu o abandono a que tem sido votada. Segundo denuncia o presidente do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA), Francisco Rasteiro, depois de ter sido alvo de frequentes actos de vandalismo, aquele património, com cem milhões de anos, sofreu agora uma derrocada com a construção de uma estrada na zona.

Francisco Rasteiro, que recentemente visitou o interior gruta, revelou ao DN que o cenário é "desolador", tendo encontrado formações únicas completamente destruídas, como consequência das obras de construção dos acessos a uma torre de controlo de tráfico marítimo na Serra dos Pinheirinhos. "Houve a necessidade de retirar rocha num processo que durou seis meses. Nós denunciámos o risco que isso representava para a gruta, até porque se avançou para os trabalhos sem um estudo de impacte ambiental que permitisse apurar os danos que as obras iriam causar. A derrocada que se registou não nos surpreendeu totalmente", lamenta o presidente do NECA.

A Gruta do Zambujal, que pode ser visitada apenas com fins científicos, comporta um extenso complexo geológico de galerias e passagens, emergindo várias formações litoquímicas como estalactites e bandeiras de formas raras, como as asas-de- -borboleta ou as argolas, acolhendo também uma importante colónia de morcegos.

Integra um sistema de grutas da Serra da Arrábida, inserida num terreno que pertence a uma pedreira, mas, de acordo com Francisco Rasteiro, "nunca mereceu a devida atenção do Parque Natural da Arrábida [tutelado pelo Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade]. A gruta está fechada e o potencial turístico não é aproveitado", refere, alertando que a legislação prevê que qualquer património classificado, em estado de degradação, dispõe de dois anos para ser recuperado, caso contrário perderá o estatuto.

"Já avisei que, se isso acontece, então é que a gruta será abandonada para sempre", adianta o presidente do NECA, que desde 1994 tem procurado "salvar este património único na Península Ibérica."

in DN - ler notícia

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