terça-feira, outubro 17, 2006

A Greve dos Professores

Embora não goste de usar este local com questões colaterais à Geologia, hoje não se pode fugir à questão. Até porque a maioria dos Geólogos portugueses são docentes... Dado que, por motivos vários, já não fazer uma greve há cerca de 15 anos, passo a explicar o que me fez aderir, neste caso, à Greve dos Professores.

Embora achando que o actual modelo de Sindicatos dos Professores (pela sua fragmentação, presença de cappos políticos, capelanias ligadas a subsectores da Educação e quase total professionalização dos seus dirigentes) esteja esgotado, o facto de todos os Sindicatos estarem unidos torna esta Greve simbólica e especial. Custando-me prejudicar alunos (e famílias...) não posso, em consciência, ir dar aulas quando há um Governo que mentiu, descaradamente, nas suas propostas eleitorais na área da Educação, que quer apenas poupar dinheiro (sem o assumir...) nas Escolas, que há muitos anos não aumenta os salários e que, agora, com áreas subsidiárias (ADSE, reformas e mesmo ECD) pretende diminuir já o que paga aos professores (quase ao mesmo tempo em que aumentou substancialmente as actividades do professor na Escola, sem melhorar as condições para estes o fazerem...).

Se me perguntarem se é bom que haja ocupação plena de tempos sem aulas na Escola por parte dos alunos, diria que sim. Se me perguntarem se deve haver avaliação justa dos docentes, com progressão na carreira, de acordo com o que cada um faz (e consegue fazer...) efectivamente, também diria que sim. Mas este Governo usa estes assuntos para insultar e rebaixar os professores e para poupar dinheiro (quando o há, afinal, para aumentar a despesa pública - vide OGE 2007 - e para obras faraónicas, bem como para estúpidas promessas como a manutenção das SCUT's...). Uma pessoa de bem não muda as regras do jogo a meio do mesmo, sobretudo quando são sempre os mesmos a sofrer com estas mudanças...

Pessoalmente acho que esta greve não irá acrescentar grande coisa à negociação Sindicatos - ME, mas, moralmente, todos os professores têm de dar o seu contributo (e sacrifício de parte do salário, que o Governo agradece...) para esta luta. Eu, pessoalmente, gostaria mais de uma luta mais ao estilo de Maio de 68, com Escolas encerradas por outros processos e com uma coordenação para o efectivo encerramento das Escolas, com a entreajuda entre os diferentes profissionais que nelas trabalham e também dos alunos - reparem que, se não houver funcionários na Escola, esta não pode abrir ou se os alunos fizerem piquetes, a entrada é problemática... Também a campanha de contra-informação por parte de alguns media devia ser melhor combatida - e os professores têm hipótese de falar directamente com as famílias, sem que intermediários comprometidos intervenham...

Mas, se ainda há um pingo de dignidade no ME, talvez os próximos dias nos retirem (pelo menos um pouco...) desta apagada e vil tristeza em que querem mergulhar os Professores e as Escolas portguesas...

Sem comentários: